domingo, 16 de dezembro de 2012

Testamento sem rima


Não,
não estou deprimido,
sequer doente,
apenas precavido

Desde já peço,
a quem couber meu corpo,
que saiba que eu não estou mais lá,
e por isso pode me cremar,

No meu dia,
como diz o samba,
nada de choro nem vela,
quero a alegria ebriada,
e as lembranças de minhas estórias

Após o dia fatídico,
não quero visitas no domingo,
preces de obrigação
quero lembranças

Aos meu amigos
deixo a alegria melancólica
os vinhos e a boemia
E, sobretudo, a lealdade sem dúvidas

A alguns poucos,
a noite da Guanabara,
o vagar pela Zona Sul
e o fim de noite no Leblon

Às minhas irmãs,
Espero ter deixado algo,
Não sei,
que elas saibam que eu as ame,
que eu não existiria sem elas e que fiz tudo que pude

À minha mãe,
quero ir depois dela,
pois sei que não fui o filho perfeito,
mas dor maior deixarei se me ver morrendo

Para a Preta,
Deixo Morrissey e os Smith's
a paixão pelos livros
a paixão pelo vinho e pela noite
E meu amor infinito e quase suicida

Ao meu filho
Deixo o clichê,
não menos verdadeiro,
de amor incondicional e eterno
O conhecimento que ainda pretendo dar
e a honestidade,
mesmo sabendo que
honestidade em boca própria é impropério

Os meus bens materiais,
enfim,
Não me interessam,
minha mulher dá fim...

Da base.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Mais uma estória de violência

Na última segunda-feira eu e a Preta quase fomos vítimas de um assalto ou, pior, de um sequestro relâmpago. 

Tomando um caminho que faço há três anos, no mesmo horário das 15 horas da tarde, vejo um carro desviar e revelar, na minha frente, um meliante com arma em punho, para que parássemos o carro, com o intuito de assaltar ou, sabe-se-lá, nos tomar de sequestro ou algo parecido. Eu, não sei se certo ou errado, baixei a Preta e avancei sobre o assaltante - Prefiro chamar assim, para não dizer sequestrador e, muito menos, assassino. Óbvio que não o atropelei e, graças a Deus ou qualquer um que esteja lá em cima, seja anjo da guarda, qualquer Santo, Alá ou similar, não teve maiores consequências que não um grande susto.

Daí me passou uma semana de reflexão. Contei a estória para alguns amigos e, inclusive para um amigo meu, que todos me questionaram a via que eu estava pegando e, alguns, que eu não deveria ter feito o que eu fiz, de não parar e avançar sobre o bandido. Ora, de início, não sou adepto da ciência da vitimologia. Não acredito, sob nenhuma hipótese, de que a vítima, no caso eu e a Preta, estamos propiciando qualquer influência para sermos assaltados pelo simples fato de termos pego a mesma via que pegamos no mesmo dia e na mesma hora há três anos. Segundo, não poderia ter agido diferente, pois se parasse, não sei o que aconteceria com a Preta e, quiçá, com o meu filho, que poderia ser objeto de alguma chantagem, mesmo estando em casa.

Cada vez mais, penso no meu repúdio desde à época de adolescente à mentalidade pequeno-burguesa de afastar a pobreza e a criminalidade de todos, como se fosse um câncer social e que as pessoas fingem que não vêem e se encastelam em seus condomínios fechado e quem tem recursos compra a segurança e não está na rua.

Vejo a impossibilidade de estar na cidade a pé, sem os carros de vidro fechado e películas negras como o breu. Vejo um mundo lá fora paralelo ao que vivemos, com violência e ritmo de vida que não chegam à classe média e, pior, quando se fala nesse mundo, fingimos não acreditar e que ele não existe.

Cada vez mais esse mundo paralelo cresce e as formas de proteção vão sendo tomadas por quem tem dinheiro, ao mesmo compasso que estes mesmos fingem não ver a violência. Carros blindados, condomínio fechado, segurança, nunca ir para a periferia ou tomar vias que passam por áreas de caráter duvidosos, poderia escrever mais uns quinze parágrafos sobre este assunto e continuaria sendo atual e instigante, demonstrando o total e completo afastamento da violência que nos circunda e, mesmo assim, fingimos ter uma postura britânica de indiferença acerca do tema.

Para abreviar esta conversa, eu, vejo, virei um pequeno-burguês, que ignoro a violência que está a minha volta e entranhada na minha vida, fingindo não acreditar que ela existe, dentro de um condomínio fechado, trafegando por ruas movimentadas e tomando, instintivamente, as precauções de estilo.

E esta mentalidade pequeno-burguesa se acentuou após o incidente da segunda-feira passada.

Da base.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Nove Rainhas, 2001





Há muito queria ver este filme, mas por diversos motivos somente hoje consegui vê-lo.

Trata-se de um suspense em que dois vigaristas tentam vender uma coleção falsa de selos raros.

O imprevisto e a dúvida são a tônica do filme, principalmente quanto à confiança entre os dois vigaristas

Aviso, é um filme argentino, digo, não hollywoodiano. Pelo menos por enquanto, pois o remake está ou já foi providenciado.

O que posso falar? Filme incrível, com um roteiro espetacular e, dispensando comentários, Ricardo Darín, que é um dos melhores atores, talvez o melhor, da década passada.

Da base.


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Location:Vila Amanajás,Belém,Brasil

domingo, 23 de setembro de 2012

Ariano Suassuna

No vôo Recife-Belém, duas cadeiras depois da que estou sentado com a Preta e o Pedro no nosso colo, está o grande escritor Ariano Suassuna, indo à Capital do Pará provavelmente para participar da Feira Pan-Amazônica do Livro.

Chegou com humildade e com uma serenidade de dar inveja a Buda, mas logo todos abriram para ele sentar onde quisesse, mesmo em um vôo lotado.

Quando começou a taxiar, dentro de seu terno de linho branco, com corte moderno e os amassados típicos do linho, fez um extenso sinal da Cruz, unindo as mãos e fazendo uma prece silenciosa, de cabeça baixa, com reverência a Deus como a de um apóstolo a Jesus.

Após, aparentando um pequeno nervosismo, certamente por seu conhecido medo de avião, passava os dedos polegar e indicador formando o vinco da calça de linho, sobre o seu fêmur das pernas magrinhas sobrepostas uma sobre a outra.

Puxa um livro de sua pasta de couro marrom, cortesia da UNIMED, quem diria, um livro de bolso, A Extravagância do Morto, Aghata Christie, inusitado para o Autor de grandes obras como A Pedra do Reino.

Alguém fala com ele, elogiando e se dizendo um grande admirador, ele responde com simpatia e pergunta o nome, naquela voz rouca e um pouco trêmula, mas ainda bem firme para alguém de sua idade.

Segue a viagem tranquilo e eu embasbacado, hipnotizado, não consigo tirar os olhos deste vovozinho de 86 anos, que apareceu na minha vida quando eu tinha 15 de idade, em que conheci O Auto da Compadecida.

Na saída, passou ao meu lado, e deu um "até logo" simpático para mim e saiu com desenvoltura.

Criei coragem e perdi a primeira oportunidade de interceptação, mas, com a insistência da Preta, deixei a timidez de lado e aproveitei que outras pessoas estavam de prontidão para uma foto, quando a Preta pediu para tirar uma também, o que foi aceito com um sonoro "até duas".

A minha foto com ele saiu perfeita, a da Preta, que eu tirei, por óbvio saiu tremida e desfocada.



Como sussurrou a Preta ao meu lado durante a viagem, um simples vôo com Ariano Suassuna é mais emocionante que as férias que tivemos de uma semana na Bahia.

No vôo de Recife para Belém.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Travessuras da Menina Má - Vargas Llosa

Um dos motivos que me levaram a passar este tempo sem postagens, deve-se certamente a um livro, indicado por uma amiga, do Nobel de literatura Mario Vargas Llosa, o Travessuras da Menina Má.

A novela trata de um peruano - terra natal do escritor -, apaixonado pela menina má e como evoluiu toda a sua vida e o seu amor por essa mulher. A narrativa é sensual sem ser vulgar, apaixonada, política e por diversas vezes trágica, permeando várias décadas, desde a de 50 do século passado até os dias atuais, com narrativas passadas no velho mundo, neste continente e mesmo na Ásia, sempre se posicionando nos costumes sociais e políticos das Cidades e dos Países e em sua época própria.

Se é para escolher apenas uma palavra para definir o romance, esta palavra seria hipnotizante.

Segue trecho que para mim é síntese do livro, às págs. 101/102 da edição do ano de 2006 da Editora Objetiva:

" - Espero que não tenha esquecido do que eu gosto, bom menino - sussurrou no meu ouvido, afinal.

E, sem esperar a minha resposta, deitou-se totalmente de costas, abrindo as pernas para dar lugar à minha cabeça, enquanto cobria os olhos com o braço direito. Senti que começava a se afastar cada vez mais e melhor de mim, do Russell Hotel, de Londres, e a concentrar-se totalmente, com uma intensidade que eu nunca tinha visto em mulher alguma, nesse prazer solitário, pessoal, egoísta, que meus lábios haviam aprendido a lhe dar. Lambendo, sorvendo, beijando, mordiscando seu sexo pequenino, senti-a ficar úmida e começar a vibrar. Demorou muito para gozar. Mas era delicioso e arrebatador senti-la ronronando, balançando, mergulhada na vertigem do desejo, até que, por fim, um longo gemido estremeceu seu corpinho da cabeça aos pés. "Vamos, agora", sussurrou, sufocada. Entrei nela com facilidade e a apertei com tanta força que saiu da inércia em que o orgasmo a deixara. Reclamou, contorcendo-se, tentando se livrar do meu corpo e gemendo: "você está me esmagando."

Com a boca colada na sua, pedi:

- Por uma vez na vida, diga que me ama, menina má. Mesmo que não seja verdade, diga que me ama. Quero saber como soa, pelo menos uma vez."

Da base, Belém, Pará.

Cotidiano Jurídico - O Pastor

Primeiramente, aos leitores, peço desculpas pelos mais de dois meses que passei sem escrever neste blog - cujos motivos são irrelevantes, mas consistentes - e prometo que nunca mais se passará tanto tempo sem que algumas mal traçadas linhas sejam expostas por este frustrado escritor.

Para tentar me redimir, quero inaugurar uma seção de contos jurídicos, chamada "Cotidiano Jurídico", com estórias verídicas - ou pelo menos a partir de relatos fidedignos - do mundo da advocacia. Dando o crédito, tive a idéia desta Seção a partir do telefonema do meu amigo Dr. Naná, grande fornecedor de contos advocatícios, que me forneceu esta estória diretamente do boteco que está, neste momento, junto ao causídico que admitiu a causa.

Pois bem, o referido causídico - que receberá o nome fictício de Dr. Naná, em homenagem ao meu amigo -, recebeu em seu escritório um Pastor de igreja, com a citação de uma ação de indenização na mão, ajuizada pela igreja na qual ministra o culto:

- O que se passou, Pastor?

- Doutor, esta ação é de um furto que ocorreu na igreja e estão dizendo que fui eu!

- E esta ação procede?

- Acho que sim.

- Quer dizer que foi o Senhor mesmo que furtou a igreja?

- Foi Doutor!

- Mas como Pastor?! - Disse Dr. Naná espantado e com a voz surpresa.

- É que na época, Doutor, acredite, eu era fraco na fé... 

Da base.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Confeitaria Colombo no Forte de Copacabana


Não poderia dar programa melhor a união destes dois monumentos do Rio de Janeiro: o Forte de Copacabana, palco de muitos eventos históricos como a revolta tenentista e o episódio dos Dezoito do Forte, e a tradicional e também histórica Confeitaria Colombo.

Situados na esquina da Praia de Copacabana com o Arpoador, foi uma excelente sacada do exército brasileiro permitir que a Confeitaria Colombo se instalasse nas dependências do Forte de Copacabana.

Para entrar, paga-se o ingresso do Museu (R$ 6,00 (inteira) R$ 3,00 (meia) e as gratuidades de praxe), que conheço há anos e vale a pena a visita.

Possui desde café da manhã e o imperdível final de tarde, acompanhado de um piano clássico. Peça qualquer coisa, como a delícia de brownie ou uma taça de vinho tinto. Ou mesmo não peça nada. Além das delícias de uma das melhores confeitarias do mundo e a melhor do Rio de Janeiro, o que importa mesmo é a vista, elaborada por obra esmerada de Deus.




Do Rio de Janeiro.


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Location:Praça Cel. Eugênio Franco,Rio de Janeiro,Brasil

domingo, 20 de maio de 2012

Brandy Casa Valduga




As minhas amigas Solange e Iracema, por ocasião do meu aniversário surpresa, patrocinado pela Preta e por minha irmã Karime, aqui no Rio de Janeiro, me presentearam com o brandy Casa Valduga V.O.P. 15 anos.

Confesso que não sabia que existia desta vinícola e, para os apreciadores de cognac e afins, que não são muitos principalmente no calor paraense, é suave e com bouquet surpreendente, pelo menos para mim, singelo apreciador da bebida.

Para dias especiais, como hoje.

Do Rio de Janeiro.


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Quase Nove





Procurando um quiosque para dar uma pausa depois da caminhada no calçadão do Rio de Janeiro? Indico o "Quase Nove" que, como o nome diz, é ao lado do Posto Nove, em Ipanema, na direção da Rua Vinícius de Moraes.

Pessoas bonitas e no sábado e domingo música carioquíssima ao vivo, voz e violão, a partir das 14:30h. Chopp da Brahma (R$ 4,00 (tulipa) e R$ 5,00 (caldereta)), água de coco na garrafinha (R$ 4,00), e peçam o cachorro quente (R$ 4,00), feito como um salgado e é leve, que, no caso, tem tudo a ver com o local.

Bom fim de tarde, com os primeiros passinhos do Pedro em Ipanema.

Do Rio de Janeiro, RJ.

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Location:Av. Vieira Souto,Rio de Janeiro,Brasil

sábado, 19 de maio de 2012

Marcô, em Santa Teresa





Marcô

Dia de sábado é dia de praia, samba e feijoada no Rio de Janeiro. Para mim é bem parecido, mudo somente o samba pelo chorinho e a praia por Santa Teresa. A feijoada continua a mesma e, no Marcô, a melhor feijoada que comi no Rio.

Pois'é, no morro de Santa Teresa, com chorinho e feijoada, o melhor é o Marcô, bar e restaurante muito agradável, no Largo do Guimarães, com tira-gostos mais diversos e a feijuca (R$ 70,00) que, para mim, serve três pessoas. De acompanhamento, batida, caipirinha e a geladíssima cerveja original.

Bom sabadão. O meu está ótimo.

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Location:R. Alm. Alexandrino,Rio de Janeiro,Brasil

terça-feira, 8 de maio de 2012

Piracatú e Point do Açaí


Este final de semana tive a oportunidade e o prazer de conhecer os dois novos restaurantes paraenses, que uso apenas uma postagem pelas suas similaridades.

O primeiro, tradicionalmente santareno, conheci naquela Cidade e por muito tempo frequentei. De passagem por Santarém, imperdível a fuga para o Piracatu. Infelizmente, em Santarém, o restaurante fechou, creio que ainda no ano de 2007 ou 2008 e, para a nossa sorte, abriu no ano passado aqui em Belém, na Rua Padre Eutíquio, nº 1172, tels. 3222-7509 e 91199515, ao lado do Shopping Pátio Belém ou, para os mais antigos, ao lado da Visão.

A base, claro, peixes do Rio Tapajós, tambaqui, pirarucú, além de pescada amarela e tucunaré, com toques regionais do baixo amazonas, dentre outros frutos do mar e mesmo carnes. Comi neste domingo o filhote a João Tonini (ou nome similar), que é um belo filé alto de filhote frito, daqueles alaranjados e crocantes por fora e branquinhos e macios por dentro, que só um especialista em peixe sabe fazer, acompanhado de farofa de tambaqui e banana e arroz com tucupi e jambú (por volta de R$ 60,00, servindo duas ou três pessoas). Delicioso.

O segundo, o Point do Açaí, localizado na Boulevard Castilhos França, entre o Banco Central e a Presidente Vargas (http://www.pointdoacai.net/restaurante.php), é uma proposta ousada, que está dando certo, em representar a comida paraense na sua forma mais popular. Explico: o restaurante serve peixes nobres, como o pirarucú, e os mais populares, como a Gó, passando por camarões, jabá, carne de sol, filhote, pescada amarela, tudo acompanhado do açaí nosso de cada dia. Aquele mesmo, da "morrinha" depois do almoço.

Pedi uma chapa que vem frango, pescada amarela, camarão, carne de sol e jabá, logo trouxeram acompanhando cerca de um litro de açaí, já estando na mesa os recipientes com o açúcar e a farinha de tapioca. Comeram três pessoas e ainda levamos para casa (cerca de R$ 60,00).

As similaridades entre os dois restaurantes: ambos regionais, com atendimento a desejar - e precisam melhorar muito, pois os garçons são extremamente amadores. Se o leitor for daqueles que se irritam com o garçom, como diz o meu amigo Gustavo, tome um rivotril antes -, com a comida deliciosa, cada qual na sua especialidade e, o melhor, ambos estão em prédios históricos.

O Piracatu está em um daqueles casarões tradicionais dos paraenses, onde muitas avós de leitores, inclusive da Preta, moravam e que, por algum tempo, ficaram esquecidos no centro da Cidade. Foi feita uma restauração despretensiosa, mas não menos cuidadosa, no casarão, conservando as suas faixas originais, que combina com a proposta do local.


O Point do Açaí, por sua vez, está em um casarão bem mais imponente, de três andares, cuidadosamente restaurado, um paredão de azulejos na frente, com suas longas escadas de madeira - se tiver alguma restrição com os seus joelhos, peça para ficar no térreo -, pé-direito alto nos três andares e amplos salões. Muito bonito, estando o proprietário de parabéns pela iniciativa culinária e, principalmente, de preservação do patrimônio histórico de Belém.

Aliás, parabéns aos dois empreendedores, pela proposta dos restaurantes, pela excelente comida e pela conservação do patrimônio histórico.

Da base.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Novo Código Rural... Ops, digo, Florestal...


Acaba de ser aprovado, na Câmara dos Deputados, após alterações no Senado Federal, o novo Código Florestal. Após este passo, somente a sanção da Presidente Dilma.

Este novo Código seria mais apropriado se chamar de Código Rural, ante a influência e o profundo retrocesso nas normas ambientais que houve na sua aprovação. Aliás, após debates de doze anos - o Projeto foi apresentado em 1999 -, o texto de lei foi marcado pela disputa entre ambientalista e ruralistas. Na aprovação, a bancada ruralista teve vantagem em larga escala e ganhou a disputa.

Alguns pontos merecem especial atenção e deixam antever o retrocesso na legislação ambiental brasileira, como é o caso da possibilidade de diminuição da reserva de legal de 80% para 50%, nos casos em que o Estado possua mais de 65% de suas áreas como reservas ambientais - o atual Código possui dispositivo semelhante, mas com mais amarras - e a retirada da definição de área de preservação permanente - APP em topo de morro, permitindo, inclusive, a pecuária nestes locais. Estes apenas alguns exemplos, que une-se ao de considerar a APP como reserva legal, vedado no atual código, e a diminuição da faixa de matas ciliares e, em alguns casos, a própria desobrigação de se manter as matas que estão nas margens dos rios.

Somente para dar um exemplo do perigo que é esta aprovação, os desmoronamentos que existem todo ano no Rio de Janeiro, tendo este ano a catástrofe sido na Região das Serras - Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo - e ano passado em Angra dos Reis, com centenas de mortos, se deve, primordialmente, à retirada da vegetação dos topos dos morros. Ou seja, o novo Código Florestal, se sancionado pela Presidente da forma como está, incentivará outras catástrofes.

Posso enumerar também, o novo incentivo à impunidade da legislação brasileira: O novo Código dá anistia aos desmatadores, que poderão regularizar as suas áreas desmatadas de reserva legal e APP's, sem a recomposição, até julho de 2008, enquanto aqueles produtores que cumpriram com as leis ambientais, não desmatando e mantendo as suas reservas legais, não terão qualquer benefício. Pior, as terras dos desmatadores, pelo menos na Amazônia, terão maior valorização e valor de venda, pois já desmatadas, com maior capacidade de atividade produtiva, em detrimento do meio ambiente.

Mas dentro da minha indignação, talvez o maior absurdo na votação que acompanhei não tenha diretamente impactos ambientais. Não diretamente. Foi retirado do texto de lei a obrigatoriedade dos entes federativos de divulgar, na internet, o Cadastro Ambiental Rural - CAR dos produtores. Este cadastro, em resumo, contém todos os dados dos proprietários e da propriedade e, pelo texto que estava posto, os Órgãos ambientais deveriam divulgar para todos na rede mundial de computadores.

Os Deputados bradavam no plenário que era um desrespeito à propriedade privada e, pasmem, até mesmo à intimidade dos produtores, como um deputado que se utilizou da tribuna para justificar a retirada do texto com essa atecnia e teratologia jurídica. Não vou fazer os leitores perderem tempo lendo justificativas contra essas atrocidades, mas posso dizer, an passant, que juridicamente todo direito de propriedade não é absoluto, devendo ter sempre uma função social, e moralmente que todos possuem direito de fiscalizar as ofensas ao meio ambiente, não podendo o direito de um particular se sobrepor ao direito de toda a coletividade. 

Assisti a maior parte da sessão na Câmara. A defesa dos deputados à bancada ruralista e ao modelo tradicional e arcaico de produção, que ao invés de compatibilizar ao meio ambiente prefere o modelo capitalista feroz e desenfreado, me deixou perplexo, brandando desculpas furadas ou, algumas vezes, sem justificativa alguma, simplesmente requerendo a retirada do texto. No fim, ampla comemoração, não sem comparecer, mesmo após aprovado, diversos deputados justificando, cabisbaixos, a aprovação do que eu passo a chamar de Código Rural.

Não deixo de notar o conflito da aprovação deste Código com a Rio+20, a acontecer em pouco mais de um mês, com os olhos do mundo no Brasil.

Enfim, como se vê, bem melhor o Código antigo, o de 1967, mais avançado ambientalmente do que este de 2012.

Certamente o tempo vai cobrar, como sempre cobra, a afronta ao meio ambiente.

Da Base.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Centenário do Cinema Olympia




Um pouco esquecido nas redes sociais, mas comemorado com justiça nos meios alternativos e culturais, o Cinema Olympia faz 100 anos hoje. É o cinema mais antigo do País em atividade.

Famoso e festejado durante toda a sua existência, fazendo a alegria de adultos, mulheres e crianças, abastados e nem tanto, cultos e pops, sempre foi unanimidade e orgulho dos paraenses, ainda hoje. Sempre o mais luxuoso, com as melhores películas, comerciais ou não, e de vanguarda.

Mesmo tendo estas características, nos final dos anos noventa, o cinema começou a decair, passando por uma fase de crise de público, como em todo o cinema mundial. Até que, em 2006, o Cinema tentou fechar as portas, não ocorrendo pelo reconhecimento da Prefeitura de Belém, que o alugou transformando em centro cultural (para mais história: http://www.cinemaolympia.com.br/historia.html e http://espacomunicipalcineolympia.blogspot.com.br/). Deveria mesmo é tê-lo desapropriado e tombado como patrimônio histórico. Tudo bem. Pelo menos salvou o Olympia.

Personagem importante nesse contexto foi o Sr. Adalberto Augusto Affonso, o gerente que mais tempo permaneceu a frente do Cinema. Conta o sítio citado acima que foi incansável pela manutenção do Cinema e que sentia orgulho pela sua administração.

Este personagem é avô da Preta, no qual ouço muitas histórias nos almoços de domingo, desde a seriedade com que conduzia o cinema, até as traquinagens de seu filho Laércio Affonso, que por vezes o ajudava a cuidar da bilheteria ou da pequena venda de bombons e pipocas que possuía na entrada do cinema (assunto para outra postagem), venda esta que conheci e que fazia a minha alegria nas sessões.

E as memórias e a formação deste Cavalcanti não seria a mesma inexistindo o Olympia. Lembro que mesmo antes de chegar em Belém, durante as minhas férias de julho ou de dezembro, sempre corria para o Olympia ou o Cinema Palácio (que foi transformado em uma igreja há muitos anos). Sempre foi um programa inesquecível, com partida no ônibus, descendo na parada da Presidente Vargas na Praça da República e enfrentando a constante fila para entrar no cinema, filme e, na saída, o cachorro quente tradicional na Praça da República, bem ao lado do Olympia, com a companhia constante do meu primo, Maurício. Por muitas vezes, me aventurando sozinho, assistindo filmes sem conseguir cadeiras, escorado em uma de suas pilastras laterais ou sentado no chão.

Mais tarde, na adolescência, a brincadeira, a paixão, a formação da cultura e, posso dizer no meu caso, do caráter, nas esticadas após o cinema ou mesmo antes, no mundo que era, e ainda é, a Praça da República, na qual o Cinema Olympia é um coadjuvante merecedor de oscar.

Filme inesquecível? Claro, Titanic, de James Cameron, com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, na qual passei metade do filme apaixonado e a outra metade aterrorizado pelas consequências do naufrágio, mascante também pelas confortáveis instalações do cinema.

Hoje, grande festa está acontecendo, sob o comando da Prefeitura de Belém e parceria do Governo do Estado, homenageando este Cinema que moldou a história e faz a lembrança de muitos que estão lendo, com merecidas homenagens, ao Olympia propriamente dito, Pedro Veriano, Adalberto Affonso e outros que contribuíram para a longevidade do Olympia e por tornar inesquecíveis aquelas poltronas vermelhas.


Da base, Belém, Pará.*

sexta-feira, 30 de março de 2012

Dom Melchor, 2001





Para comemorar o nosso apartamento novo, eu e a Preta decidimos abrir o festejado Dom Melchor, safra 2001.

Encorpado, não tanto quanto se esperaria de um vinho de 11 anos, com persistência e um bouquet inigualável. Um vinho muito bem estruturado, mas ainda assim surpreendente pelo seu retrogosto - acho essa linguagem de enófilos tão esnobe.

O que quero dizer é: um vinho tecnicamente certinho, mas ainda assim tem umas características que o diferencia, como o gosto de vinho que se mantém na boca, pelo cheiro e o tempo que passa no ar quando se abre o vinho, e o toque ácido que fica na ponta da língua. Mesmo com o tempo, consegue seu toque de suavidade.

Mas, de nada é o vinho sem o clima e a companhia e, neste quesito, posso dizer que o vinho ganhou o seu tom de inigualável para mim.

Mesmo sem móveis e por muito a se fazer, é um vinho inesquecível, em uma noite deliciosa. Ou é um vinho delicioso em uma noite inesquecível. Para a minha sorte, tanto faz.

Da base, Belém, Pará.

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Location:Av. Roberto Camelier,Belém,Brasil

quarta-feira, 28 de março de 2012

Millor Fernandes

Faleceu hoje o humorista Millor Fernandes, de falência múltipla dos órgãos, aos 88 anos.

Já sabia de quem se tratava, mas passei a conhecer e ler as suas publicaçōes a partir de uma grande amigo meu, Antônio Duval, fã do Millor, que inclusive deu o nome do humorista ao seu primogênito. Para mim, a vida passou a ser mais divertida e mais inteligente.

Criador do Pasquim, fez história na Revista Veja e no Jornal do Brasil, foi jornalista, dramaturgo e escritor. Foi fundamental na imprensa na época da ditadura militar.

Este pequeno espaço nunca vai ser suficiente para contar a história de Millor Fernandes, mesmo as simples passagens.

Em Belém, não sei se possui alguma ligação, mas choveu durante a madrugada toda e todo o dia.




Da base, Belém, Pará.
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terça-feira, 13 de março de 2012

Quadrinhas para um bebê



I

Ainda ontem nascia
econômico no choro do parto
A mãe determinando a minha companhia,
no ato!

Recebeu nome bíblico
e homenagem a escritor
Ainda que não fosse a intenção,
ficou com nome de doutor


II

Desde então a alegria,
pulando amiúde escorado
sorridente em um mundo de fantasia,
sedento por um mundo a ser desbravado

Relutante para dormir
rabugento ao acordar
meigo no carinho desajeitado,
preciso no pegar

O virtual desta nova era,
polegar enristado,
a tecnologia que quer conhecer
no passar do dedo despreocupado


III

Do engatinhar que não ia acontecer,
passou a fugir com destreza
buscando o desconhecido
com reclamação, sorriso e certeza


IV

Um viajante nato
no avião com desenvoltura
brinca e passeia no corredor
dorme com ternura

No primeiro carnaval um folião,
a cada dia uma fantasia,
um bebê com personalidade
a cidade maravilhosa assistia


V

Ano completo e a curiosidade não para
Tento guardar seus olhos na lembrança
o gargalhar e o balbuciar,
e a beleza das descobertas desta criança.

Da base, Belém, Pará, em homenagem ao dia 24 de março de 2012.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Politicamente correto

Me preocupa muito essa estória do politicamente correto. As pessoas certinhas, fazendo sempre o que é certo e execrando o errado, na perspectiva moralista de ser. É errado fumar, beber em excesso, tratar com falta de educação o próximo, direitos humanos, isto! os tão propalados direitos humanos, ser bom filho, bom pai, bom marido, etecetera, tudo para fazer o correto.

O interessante é notar que à esta política do correto, vem sempre a reboque o marketing pessoal. A estas pessoas a humildade não é uma característica, sempre fazendo apologia à sua corretude, ao seu jeito certinho de ser, divulgando o máximo possível para todos e, nesta época de mídias sociais, em todos os meios de informações possíveis.

Estas pessoas, a observação me mostra, que a carapuça acaba sempre quando está em jogo o seu interesse. Quando a discussão passa pelo direito dos outros em confronto com um interesse seu, vinga a máxima do “farinha pouca, o meu pirão primeiro”. São esses, sem exceções que eu tenha visto, os politicamente corretos dos primeiros anos deste milênio.

Uma parte desta classe, usa ainda a noção bíblica de livre arbítrio e acopla o nome de Jesus ou de Deus. Estes são os mais perigosos e pedantes. Digo sempre que, quando uma pessoa usa o nome de Jesus mais de duas vezes na mesma frase, pode se afastar que ele vai te enganar.

Os poucos que conseguem se afastar desta definição, as raras exceções, são simplesmente chatos.

Repudio, a cada dia que passa, mais veementemente, o politicamente correto e fico preocupado quando um se aproxima de mim, pois certamente é para me usar ou me enganar, ou mesmo me entediar.

Sou de uma época em que o exagero fazia parte da minha geração. A minha noção de livre arbítrio era o certo, o errado, e o resto, como conta a lenda que Cazuza disse uma vez ao seu pai.

O resto é o melhor. A própria palavra já choca e demonstra o que a pessoa é. O que sobrou, após ter sido deglutido, o marginal, o yuppie, o punk. Meus heróis são as duas lendas do que está a margem da sociedade, Cazuza, que dispensa comentários, e Rê Bordosa, a personagem de quadrinhos do Angeli, ambos mortos, ao estilo de Cid Vicious.

Não estou aqui para fazer uma apologia ao que está errado, ao mal ou ao fazer mal. Uma leitura mais detida do que disse acima, verificará que são três classes: o certo, o errado e o resto. O resto não é o errado. O resto não é classe do politicamente correto. Esta sim, está no errado, seja por sempre estar escondendo algo, seja por ser chato.

A pessoa precisa da imperfeição, do vício comedido, de algo que a torne mais humana. Como as mulheres: o que esperar daquela certinha, sem passado, com o corpo perfeito e que nunca se excede? O que esperar das mulheres sem celulites ou que não brincam? Elas podem até ser convenientes durante algum tempo, mas nunca serão companheiras, ou se tornarão apenas um troféu para os politicamente corretos, para voltar ao assunto.

Aliás, como mais uma forma contestadora, esta crônica, diferente do politicamente correto, não terá fim. Já disse o que queria: fim ao politicamente correto.

Acabou.

Da base, Belém, PA.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Adega Pérola

Um dos bares mais tradicionais do Rio de Janeiro é o Adega Pérola, na Rua Siqueira Campos, próximo à estação de metrô Siqueira Campos.
O bar é conhecido pelas centenas de tira-gostos que possui, muitos deles expostos no balcão. A diversidade vai do tradicional e exótico rollmops, uma espécie de sardinha crua, marinada no azeite, ao tradicional bacalhau, passando por lula, truta, bolinhos, pastéis, etc.
Bebidas, as mais diversas, incluindo vinhos, uísques e o tradicional chopp da Brahma.
Frequentei muito a Adega Pérola, cuja existência remonta ao ano de 1957. Há alguns anos faleceu o dono, um lusitano não tão simpático, que dirigia a Adega com mão-de-ferro, mas que mantinha a qualidade de seus produtos.
Após a sua morte, a Adega passou por um período de declínio e de não tão boa qualidade. Cheguei a ouvir boatos, que não confirmei, de que a Adega Pérola iria fechar e de que os frequentadores estavam se reunindo para comprar o bar, na tentativa de salvá-lo, como um patrimônio do Rio de Janeiro.
Não sei o que aconteceu, mas é com grata satisfação que anuncio que a Adega Pérola está salva, com a mesma qualidade de sempre e com produtos diferenciados, inclusive estando expostas algumas cervejas artesanais, como a especial Colorado, e outras importadas.
Fiquei muito feliz em ver a Adega Pérola nesta quarta-feira de cinzas. Longa vida a Adega.




Do Rio de Janeiro, RJ.
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Location:R. Siqueira Campos,Rio de Janeiro,Brasil

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Praia Skol 360º





Haviam me falado da inauguração, em um dos quiosques da orla de Copacabana, do Praia Skol 360º, como local de boa cerveja, bons tira-gostos e bom atendimento.

Não ontem e não hoje. Talvez pela época, carnaval, a cerveja estava quente e o atendimento péssimo, isso ontem, porque hoje sequer conseguimos ser atendidos. Sentamos, chamamos vários garçons, e nenhum nos atendeu.

Sem raiva e sem arrependimentos, apenas nos levantamos da mesa e fomos para o nosso Quiosque do Chopp da Brahma. Pelo menos até agora, infalível.

Do Rio de Janeiro, RJ.

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Yoani Sanchez e Cuba

Como podem constatar pela relação de blogs do lado esquerdo do monitor, há algum tempo venho seguindo o blog de Yoani Sanchez, a escritora e blogueira cubana, crítica do regime dos Castros.

Ser crítica tudo bem, afinal, em toda democracia existe oposição ao Governo. Mas daí a ser perseguida pela polícia e espancada, assim como ter negada a sua saída de Cuba, mesmo que temporariamente, é demais.

O Governo castrista chegou até mesmo a tirar o blog do ar, impedindo a blogueira de fazer suas postagens, o que a levou a mandar os textos por email's diversos para amigos na Espanha, burlando a inteligência cubana, que colocavam na internet os textos.

Foram 19 tentativas de saída (lícitas) de Cuba, todas negadas. O Brasil negou a entrada da blogueira neste País 5 vezes, em um ritual de beija-mão (literalmente, pois vi na imprensa) de Fidel Castro pelo ex-Presidente Lula.

Hoje assisto com satisfação a aprovação do visto pelo Governo brasileiro, autorizando a entrada da criadora do "Generation Y", em uma atitude de rebeldia da Presidente Dilma contra o seu mentor e criador Lula. Aliás, um ato de coragem na cúpula do Partido dos Trabalhadores. Me pergunto até mesmo se fez isto por saber que o mais difícil Está por vir: a Yoane conseguir o visto de saída de Cuba, dado pelo Governo cubano.

Na Universidade, durante os arroubos da juventude, como diz o meu amigo Mário Figueiredo, me auto-intitulava socialista, defendendo ferrenhamente o regime cubano e a oposição aos isteites.

Hoje, que meus cabelos brancos me deram alguma maturidade, vejo que essa versão socialista-classe-média-de-boteco era exagerada e que, dado o desconto da pouca idade, nao deveria ter defendido esse regime ditatorial e totalitário dos Castros. Aliás, minha mãe sempre esteve certa.

Estou orgulhoso de meu País pela emissão do visto, permitindo que seja homenageada em um documentário que será lançado na Bahia em fevereiro, de corpo presente, fato que tantas vezes não aconteceu por não ter sido permitida a saída de Cuba.

E que venha Yoane Sanchez! Se Fidel deixar...

Da base, Belém, Pará.


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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A esperança

Estou saindo do Município de Primavera, onde acabo de participar de uma audiência pública que visa esclarecer a população daquele Município, assim como dos Municípios vizinhos de Quatipuru, Peixe-boi, Salinópolis, São João de Pirabas e outros, sobre os impactos ambientais da implantação de uma fábrica de cimento na localidade.

Não vou discutir aqui acerca do mérito de ser bom uma mina de calcário e uma fábrica de cimento na região, muito menos vejam, caros leitores, qualquer opinião acerca do dilema meio ambiente x industrialização, pois não há.

O que quero falar é de esperança.

Meu avô materno, o velho Nadyr, foi delegado dativo de Primavera na década de 60. Na verdade, ele era subtenente da PM, mas exerceu a função, ante a falta de bacharéis em direito na época. Conta a minha mãe, sempre que possui oportunidade, que a minha avó, fazia uma espécie de orientação acerca de higiene pessoal e de pré-natal à população, como forma de ajudar nestas, digamos, necessidades primárias dos habitantes. Esta história se faz necessária pois, sempre acoplada a ela, vem os dizeres da minha mãe me falando da situação de pobreza da localidade (não sei se já era Município naquela época).

Hoje, avanços tiveram, é certo, mas a aparência de pobreza e de abandono ainda se estampa no rosto de uma população que carrega as marcas de sofrimento e, muitas delas, de uma tristeza como modo de viver. Digo que carrega as marcas porque hoje vi um ar de realização.

Fui chamado para compor a mesa e, de frente para a platéia, pude fazer essa constatação olhando no rosto dessa população em um auditório lotado, mas passivo e quieto, sem qualquer palavra ou conversa paralela, ao longo de quatro horas ininterruptas de discursos e apresentações de critérios técnicos pela empresa e pelos membros da mesa, onde muito pouco, com benevolência na minha opinião, foi assimilado pelos que estavam presentes.

As únicas manifestações eram aplausos contidos, sempre que iniciados por alguém da mesa ou das cadeiras da frente.

Ouviram, sempre com uma alegria calada, afinal, autoridades estavam no local, para mostrar um empreendimento de R$ 400.000.000,00, que vai melhorar a vida de todos, trazer emprego e renda, almejados desde o comissário de polícia Nadyr. Vão trazer cursos, investir na cultura local, projetos sociais para crianças e adolescentes.

Mesmo que nada disso ocorra, pelo menos por um dia aquele povo distante foi lembrado, inclusive com o farto lanche, para muitos o almoço, oferecido depois do encerramento da audiência pública.

Naquele momento não adiantava nada alguém dizer que o empreendimento estava no local pela mina que existe lá e que a fábrica estava se fixando por, provavelmente, estudos locacionais, e que o Estado e o Município tiveram pouca participação na escolha do local de implantação da empresa que, neste tipo de empreendimento, é baseado no local do minério. Naquele dia os governantes que elegeram lembraram deles. O Brasil, pela empresa multinacional, lembrou deles.

A esperança triunfou, pois aquele povo estava sendo visto e lembrado. Nem que seja somente por um dia.



De Primavera para Belém.








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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Meia Noite em Paris, 2010


Não poderia deixar de fazer referência neste blog sobre o recente filme do amado e odiado Diretor Woody Allen.

Neste filme, um roteirista de sucesso hollywoodiano, em viagem com sua noiva e seus sogros, passeia pelas ruas de Paris e retorna, em um passe de mágica, primeiramente aos anos 20 e depois a Belle Epoque parisiense, encontrando com os ídolos que fizeram história, como Hemingway, o casal Fitzgerald, Picasso, T. S. Eliot, Cole Porter, o trio Dalí, Garcia Lorca e Buñuel, dentre outros.

É um típico filme de Woody Allen, com diálogos longos e inusitados, passagens inexplicáveis e irreais e, até mesmo, Owen Wilson, interpretando o protagonista, algumas vezes parecendo o próprio Allen nos primórdios de sua carreira. Mais woodyano somente se o filme se passasse em Nova York.

O filme é incrível, principalmente para os amantes da leitura, com uma produção e roteiro primorosos, com linda fotografia da Capital francesa, tanto pela noite, como pelo dia, o que dá mais vontade de caminhar sem rumo pela ruas de Paris.

Da base, Belém, Pará.

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Poucas Cinzas - Salvador Dalí

O filme conta a história dos amigos gênios Federico Garcia Lorca, Salvador Dalí e Luis Buñuel, durante a efervescência cultural européia dos anos 20 e a ditadura espanhola.

Baseado nas memórias de Salvador Dalí, é um filme denso, algumas vezes desconfortável, mas é uma obra que deve ser vista, pela história, por seu roteiro e por sua fotografia. Adicione ainda como motivo para ver a película a atuação de Javier Beltrán no papel de Garcia Lorca.

Para melhorar ainda mais o filme, este poderia ser falado em espanhol, e não em inglês, pois assim se conferiria maior realidade à película.



Da base, Belém, Pará.

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sábado, 7 de janeiro de 2012

Assalto ao Banco Central

Acabei de assistir, em vídeo, o filme Assalto ao Banco Central, produção brasileira que, mesmo que seja uma obra de ficção, conta a história do maior assalto brasileiro, o que ocorreu na Capital Fortaleza, na qual foram subtraídos por volta de R$ 164.000.000,00 da instituição.

A película é muito boa, o roteiro, os diálogos, a imagem, enfim, a qualidade da produção. Mas o interessante mesmo é a história, inclusive a inteligência dos bandidos, que não vou me estender para não antecipar detalhes do final.

Vale também visitar o site oficial do filme (www.assaltoaobancocentral.com.br), inclusive porque tem notícias acerca das investigações e um link, para denúncias.

Merece destaque que é um filme baseado em fatos reais, mas que não é enfadonho, como a maioria dos filmes do gênero.



Ótimo policial e, o melhor, de produção brasileira.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os Cavalcanti's e os Barbeiros

Barbeiro está em extinção, sendo cada vez mais raros nos grandes centros e, pelo que tenho visto, nas pequenas cidades. Contudo, ainda há uma população masculina que, como eu, precisa de um lugar com cortes precisos, rápidos, com barbas sendo feitas com navalhas e sem muita burocracia.

Em Sampa, há um movimento para recriar as barbearias das décadas de 40 e 50, com ambientes decorados e cadeiras cromadas, em que conheci na Rua Augusta a Barbearia IX de Julho (http://www.barbearia9.com.br/), com filiais no Itaim e no Centro.

Em Belém, conheço duas barbearias, ambas de barbeiros provenientes do saudoso Central Hotel, na Presidente Vargas, que possuía os melhores profissionais da Cidade, sendo local invejado por todos. Lembro do Hotel e da barbearia já decadentes, na minha época de pré-adolescência, quando uma vez fui passear de ônibus pela Avenida.

Mais simples, mas com qualidade até mesmo superior à paulista, temos o Barbeirinho e o Moacir Carioca, o Rei da Tesoura, ambos com seus estabelecimentos na Antônio Barreto, entre Dom Romualdo de Seixas e Wandenkolk. O primeiro, do lado direito e o segundo, do lado esquerdo, ao lado do Laboratório Amaral Costa.

O Barbeirinho, não conheço, mas alguns amigos meus cortam no local e dizem que é muito bom, sempre com a mais recente edição da conhecida revista masculina para o entretenimento dos clientes, além da boa conversa.

O Carioca, escrevi algo sobre ele há algum tempo neste blog, contudo, o que não falei é que ele cuida da cabeleira dos Cavalcanti's há 35 anos. O meu pai passou 34 destes cortando o cabelo lá e eu, pelo menos 15. Agora, a nova geração começou a cortar o cabelo no local, com apenas 9 meses, levado por mim.


São três gerações dos Cavalcanti's tendo a cabeleira cuidada pelo mesmo barbeiro, raro, por sinal.

Da base, Belém, Pará.