terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Resolução de Ano Novo

Não quero emagrecer

Não quero ler mais, nem menos

Não quero viajar mais

Não quero ter mais amigos


A minha resolução para o ano

É me afastar de pessoas carregadas

Que amam mal

Que mandam mensagens que fazem o celular pesar quilos

Pessoas que fazem de um problema pequeno, uma tragédia

e logo depois elas mesmas surgem como solução!

Que falam mal dos outros,

sem olhar pra si

Que sugam a nossa alma

Cansam e carregam

Inveja, hipocrisia, pavoneamento

Reclamações sem soluções

ou sem nunca tentar solução


Quero pessoas alegres

Papos molhados pela madrugada

Assuntos que não levam a nada

a não ser gargalhadas 

Que comemoram a vida

Que não precisam ter razão

De sorriso frouxo e alma lavada

Que não se preocupam com a vida dos outros,

exceto na amizade

Quero dias de sol

ou que os invernos sejam transformados em primavera


Não quero gritos

quero falas amenas

de preferência sussurros no ouvido

Quero mentiras sinceras

quando a verdade for dolorida

Aceito a hipocrisia branda

quando não se puder ser realista 

Aliás, não quero choque de realidade

quero conversas suaves


Quero amor

Compreensão

Amizade

E leveza


Principalmente leveza


Está decretado

No novo ano

Quero pessoas leves ao lado.


Da base.



quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Tristeza

Que a tristeza que sinto

pudesse acabar

Que pudesse resetar

Pudesse lutar


Voltar

No amor

Na felicidade 

No sol


Procurando acalento das agressões

Nas noites mal dormidas no sofá

No copo

Na fumaça


Algo morreu

Eu sobrevivo

Triste

Com sequelas


Da base.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Ficção

E a ficção

latente a procurar motivos

de uma traição

na ilusão


Passa à real traição

Na espionagem

Na desconfiança

Justificativas vans


Ofensas desmedidas

nas embriaguês mais que constantes

Maestria na arte de atingir

Lapidada em anos de conviver


Rasgam o peito

Apagam o tempo

Arrancando o que mais importa

O filho da convivência


Agora o único que importa


Da base

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Lisboeta

As pausas intelectuais

nas madrugadas do hotel

a companhia do vinho barato

nos quiosques da Liberdade


O vagar ébrio nas noites do Bairro Alto

o rock do Portas Largas

a Rua Rosa mundana

o gin dos rooftops


A ressaca na Bertrand

o tinto Alentejano

a sombra sempiterna de Pessoa

os novos amigos de uma vida toda


E as inspirações 

Ah, as inspirações...

Na ribeira, no mercado...

Nas ruas centenárias

As alfacinhas


As noites frias inesquecíveis de janeiro...




Da base.


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Cinco Esquinas, 2016, Alfaguara

Cinco Esquinas é um livro do consagrado e Nobel de literatura Mário Varga Llosa.

O romance se passa em Lima, durante a ditadura de Fujimori, e trata de um relacionamento de duas amigas, Marisa e Chabela, ambas casadas, que começam a ter um caso extraconjugal, e uma chantagem de um periódico sensacionalista ao engenheiro e empresário de sucesso marido de Marisa.

O romance foi anunciado como o sucessor do “Travessuras da Menina Má”, para mim melhor livro de Vargas Llosa. Contudo, as semelhanças são bem poucas, exceto pela escrita fluente e sensual do Autor.

Ainda assim é um excelente livro, com muita sensualidade e que a cada capítulo deixa a curiosidade do que vai acontecer nos próximos, o que faz com quero livro seja lido na carreira, desse que é um dos grandes da América do Sul.




sábado, 29 de setembro de 2018

Diabetes

Uma arma
Amor
Traição
Perdão

A sombra sempre está lá
Aqui
E te frequenta de quando em vez
Como a diabetes

Mata lentamente
Só resta a poesia
Fúnebre
Desse amor

Da base.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Pssica, Edyr Augusto, 2015.



Romance regional,  que toca na triste realidade do Pará de hoje, com tráfico de escravas brancas para prostituição, violência e assaltos nos rios paraenses - com os famosos "Ratos d'Água" -, corrupção na política e ausência do Estado nas regiões ambientadas.

Ambientado na Capital Belém e na Ilha do Marajó, é um romance intenso, forte e que expõe a dura realidade paraense, relegada pelas autoridades como se não existisse e não vista dos condomínios fechados e dos prédios do centro da Cidade. Traz à tona toda a marginalidade dessas localidades e dos rios e uma grande reflexão, ainda que subliminar, do Pará que nos tornamos.

O Autor já é um veterano, possui cinco livros, alguns traduzidos na Inglaterra, Peru, México e França e premiado neste último País.

Excelente livro.

Da Base.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A Espreita

Está em todo lado
Como o ar
Envolta na fumaça do cigarro
E no fundo do copo

Violenta
Doente
Premeditada
Repentina

Qual a fuga?
Viver ou morrer na vida
Essa vida agora irresponsável

Se a morte me espreita
não me incomoda se vou,
mas o que fica
quem ainda tem a vida

Vai precisar de mim?
A minha escuridão será a dele?
Medo

Da base.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

As Pequenas Violências do Dia-a-dia e o Poder Efêmero

Tenho valores para receber de uma ação judicial. Consultando o andamento no sítio do Tribunal respectivo, vi na internet que havia despacho determinando a manifestação do devedor, mas não constava que foi publicado e não encontrei a publicação no complicado acesso ao Diário de Justiça da União.

Decidi ir ao Tribunal, tão somente para verificar se foi publicado o despacho prolatado há cerca de 15 dias e, caso não tenha sido, que houvesse a publicação. Passei quarenta minutos no trânsito paraense infernal rodando para estacionar. Até aí aparentemente nenhum problema, se não fosse que o trânsito estava péssimo por pura falta de educação dos motoristas, com carros mau estacionados, ocupando duas vagas, carros fechando o cruzamento, filas duplas, caminhões nas ruas em horário de pico, dentre outras má educações comuns no trânsito paraoara. Ando duas quadras no sol a pino de duas horas da tarde e chego na Justiça somente para pedir que fosse publicado. Resumindo, a atendente, servidora pública federal, em clara má vontade,  me disse que não podia fazer nada, pois tinha um parecer (sequer sei se é possível isso!) que dá o prazo de 60 dias para publicação.

Pedi celeridade, disse que se tratava de verba alimentar, que o processo já estava julgado e que se tratava de uma mera publicação, em uma submissão de um cachorro que estava levando bronca do dono. Aos que trabalham com Justiça sabem que brigar com servidor é pior que brigar com Juiz, pois se a Justiça já é morosa, com a briga, o processo não vai andar nunca mais.

Pois bem, a servidora me deu de ombros, fez uma cara irritada (como se eu estivesse pedindo favor! Pasmem!) e colocou o processo ao lado de sua mesa, dizendo que tinha até fim de setembro para a publicação!

E não pensem que isso é uma situação que somente acontece nesta República das Bananas. Estava domingo em Miami, Estados Unidos da América, quando estacionei o carro em um estacionamento privado. Aos que conhecem, sabem que a grande maioria dos estacionamentos são completamente automatizados e que se paga em maquinetas. Por causa do meu inglês aprendido com Joel Santana, acabei colocando um dos dados do veículo equivocado, mas um erro de fácil identificação, ainda mais que o boleto tinha que ficar dentro do carro e à vista de um eventual fiscal, o que fiz. Quando chego, havia uma multa administrativa e desta vez havia um fiscal do estacionamento. Fui conversar com ele, primeiro perguntando o motivo da multa e após explicando que foi mero erro, que o estacionamento estava pago e que o boleto estava no carro, visível. O funcionário contratado pelo estacionamento, com a empáfia de um sargento em bordel do interior, me julgou naquele momento, disse na fundamentação que não poderia fazer nada e aplicou a pena sumária de multa!

No mesmo dia, pela noite, fui embarcar de volta ao Brasil pela LATAM que, para mim, é a empresa campeã das pequenas violências ao consumidor. Acho que a companhia têm um manual, de observância obrigatória, intitulado "Como Irritar o Consumidor da Latam - Subtítulo: "Deixe o Passageiro Puto e Ainda Tire Sarro!". Começou na fila, em que mantenho um cartão de crédito da empresa apenas para ter embarque prioritário. O Cartão não serve mais para absolutamente nada, só para ter prioridade no despacho de bagagens e embarque. Quando apresentei o cartão, veio uma funcionária brasileira dizendo logo que este cartão somente serve no Brasil, no exterior não serve. Questionei o motivo, pois a empresa é a mesma e ela na sua autoridade momentânea, no seu pequeníssimo e brevíssimo nicho de poder, apenas sentenciou que não tinha validade e nada mais.

Cheguei no guichê e notei que os meus assentos, que estavam juntos com a Preta e o moleque, marcados há meses, foram modificados aleatoriamente pela empresa. Reclamei, claro. A atendente, na maior da boa vontade e me dando razão, chamou o supervisor pelo rádio, supervisor este que nunca chegou e eu, decidi colocar mais uma vez a minha raiva no saco e somente pedi para colocar-nos em assentos juntos e fui para a imigração.

Após esse dia, ainda tive que encarar a arrogância e a autoridade contra latinos que os agentes de imigração americanos, que geralmente também são latinos, possuem. "Cucarachas" com Green Cards, que sistematicamente ofendem outros "Cucarachas" (neste e em outros dias, esse cucaracha era eu!), como se todos não fossem latinos, dentro de seu pequeno espaço de poder de conferencistas de passaportes. Como diria o saudoso Paulo Silvino, o espaço de poder do cara-crachá!

Muitos devem estar lendo e dizendo que eu não deveria aceitar, que deveria fazer reclamações e entrar na Justiça! Não aceito! Reclamo sempre! Ao vivo e nos sites e ouvidorias respectivas! Mas o resultado é, no máximo, uma carta de desculpas padrão! Em todos os casos essas violências são praticadas por pessoas que estão dentro do seu pequeno nicho de poder e que acham que podem descontar a violência diária que recebem, em um sistema de propagação de pequenas violências e em um ciclo interminável de disseminação de ódio. Um poderzinho efêmero e arrogante, geralmente tidos por pessoas que não têm nenhum preparo para ter qualquer poder, que os titulares acham que lhes dá um salvo conduto para praticar o que querem ou, no mínimo, criar dificuldades. Esta é a moral e lógica do ódio de hoje.

Quanto a entrar na Justiça nesses casos, absolutamente inútil! Primeiro que se vai ter que passar por um processo longo e penoso, com mais pequenas irritações como a que relatei no primeiro parágrafo. Segundo, estas pequenas violências não são tuteláveis pelo direito, ante o princípio de que o direito não lida com bagatelas.

O fato é que, essas violências vão se repercutindo e passando de pessoa por pessoa, em um ciclo interminável de ódio, até chegar na sua ponta, que pode ser uma briga de rua, o marido agredindo a esposa quando chega cansado no final do dia ou a esposa agredindo o marido, o filho apanhando ou, até mesmo, um eventual assassinato, na rua ou em casa, em um momento de raiva e descontrole.

Os mais antigos devem se lembrar de um filme do início da década de 90 chamado "Um Dia de Fúria" ("Falling Down"), estrelado por Michael Douglas. Foi um filme de muito sucesso na época, que conta a estória de um dia de um pai de família e trabalhador sério e honesto, que começa sendo despedido por injustiça e passa por pequenas violências no dia, como na clássica cena em que entra em uma rede de fast food e recebe o sanduíche completamente diferente do que está na foto do anúncio. Acaba que ele agita toda Los Angeles e faz uma barricada, se bem me lembro, com um arsenal de armas em uma praça e o exército querendo pegá-lo, mas não consegue em face do grande estoque de armas e munições que possui. E tudo que ele queria era tão somente chegar no aniversário de sua filha. O filme é fantástico e ilustra muito bem esta mais que extensa crônica e os dias que vivemos hoje.

 Aliás, todas essas pequenas violências que passei e que muitos de vocês passam também (e que muitos escondem), poderiam se encaixar muito bem na película, confessando que têm dias que gostaria de ser o Michael Douglas em determinados momentos do filme, como na cena em que ele quebra toda a lanchonete.

Da base.

terça-feira, 24 de julho de 2018

História do Cerco de Lisboa, Saramago, 1989

Terminei ontem a obra "História do Cerco de Lisboa", de José Saramago, escrito em 1989.

O livro trata da estória de um revisor, que parte para reescrever o Cerco de Lisboa, quando os Mouros estavam na posse da Capital portuguesa e o Rei chama os Cruzados para a retomada.

O escritor traça o relato de uma história que todos sabemos como acaba, de uma forma diferente, com literatura e duas estórias de amor, fazendo paralelos com a história do cerco e os tempos atuais, especificamente quanto à vida deste revisor de livros e poemas.

No estilo inconfundível de Saramago, uma das obras mais bem escritas que já li. Realmente, o ponto alto, sem desmerecer a novela (absolutamente), é a narrativa dos fatos e o primor e cuidado pelo vernáculo e a escrita.

Da Base.


quinta-feira, 19 de julho de 2018

A cura

E veio o anúncio
O choro explosivo
O choque momentâneo
Incontido

E o entrar no quarto
Evitando olhares
Explicações
Sensações de um mundo injusto

O retorno à fumaça do cigarro
O desespero
Ódio à vida

O acordar na madrugada
Soluços desesperados
Nas pesquisas virtuais da cura

Na aurora
O desespero conformado
Ainda latente e explosivo
reunindo sanidade
Curar o incurável

Poema escrito na base, em dezembro de 2015

terça-feira, 12 de junho de 2018

Sour Grapes, 2016





Este documentário conta a estória de Rudy Kurniawan, provavelmente o maior falsificador de vinhos da história e um dos grandes responsáveis pelo aumento de preço e mitificação de alguns vinhos.

Profundo conhecedor de vinhos e pessoa envolvente, começou a colocar seus vinhos em leilões, sob o manto de possuidor de uma extensa adega e com rótulos raros, obtendo milhares dólares em cada venda.

A farsa foi descoberta por um produtor de vinhos da Borgonha, que descobriu que algumas safras comercializadas não correspondiam com os rótulos produzidos.

Excelente película para demonstrar como os vinhos são mitificados nas mãos de poucos, a ganância no mundo dos vinhos e, principalmente, como o mercado de leilões de vinhos pode entrar em colapso.

Não vou dar spoiler, mas chega até a ser engraçado como Kurniawan manipulou o mercado de vinhos.

Da Base.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Utilidade

No banco de trás

borram as luzes dos carros

no molhado da chuva

Solitário


Penso nas pessoas que me cercam

Da mesma forma que o taxista me leva

o valor do taxímetro

é o preço do amigo


No valor da minha confiança

vale a utilidade, 

O preço que pago pela companhia

para manter a amizade


Poucas sinceras

Desinteressadas

Que somente com o aumento do preço

A tornam gratuitas e fiéis


Findo o meu poder de pagamento

Quando veem que chego ao meu destino

O taxímetro marca o preço final

E desembarcam da minha vida


Poema escrito em Belém, Dezembro de 2016.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Beleza Oculta, 2017




É certo que a crítica classificou o filme como melodrama tipicamente hollywoodiano, fazendo duras críticas ao filme, mas o fato é que qualquer filme que reúna Edward Norton, Kate Winslet, Will Smith, Helen Mirren e Keira Knightley merece ser visto.

No filme, Howard (Will Smith) é um pai que perdeu a filha de seis anos e se fechou completamente para o mundo, enviando cartas para a morte (Helen Mirren), o tempo e o amor (Keira Knightley). Três amigos e sócios (Edward Norton e Kate Winslet) se reúnem para fazer com que Howard venda a empresa, que vai mal desde a morte da filha e do afastamento de Howard.

São três finais com uma beleza sutil e o principal surpreendente.

De arrancar lágrimas de qualquer apreciador de O Predador.

Da base.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Uísque e Jingle Bells

Todo ano, um grande amigo meu faz um natal especial para as crianças conhecidas dele. Como ele mesmo me disse quando ligou para convidar a família Cavalcanti, a festa é para as crianças, para que mantenha viva a crença no Papai Noel.

Então, a estória era a seguinte: a criança escreve uma cartinha para o Papai Noel pedindo o seu presente. Os pais compram e entregam para o meu amigo anfitrião. No auge da festa, o Papai Noel chega na festa de Natal, lê a cartinha da criança e entrega o presente, em um realismo natalino que poderia fazer até um adulto acreditar.

Chegamos na festa, uma bela casa, com muitas crianças e os seus pais, que se sentaram em uma das pontas da mesa de jantar, devidamente munidos de uísque e tira-gosto. Afinal, não eram apenas as crianças que poderiam se divertir nas vésperas do dia 25.

Primeiro, uma apresentação de mágico que reuniu todas as crianças e alguns adultos, inclusive eu, que adoro ilusionismo.

Logo em seguida o ponto alto da festa, a entrada do Papai Noel! Jogo de luz, som alto com música de suspense, centenas de balões jogados do alto, muito gelo seco e então o Papai Noel entra por uma porta lateral, cuidadosamente decorada para parecer uma lareira, em uma superprodução de fazer inveja a filme de Hollywood!

As crianças embasbacadas e não acreditando que estão vendo o Papai Noel na frente delas! E era o Papai Noel mesmo, com a perfeita indumentária vermelha, barba branca natural, o gorro escondendo o cabelo branco da cor de algodão, o grande saco vermelho com os presentes de todas as crianças do mundo e o Ho ho ho tradicional.

Pedro, então, cético como ele é, seguidor de São Tomé, olhava o Papai Noel desta vez acreditando que ele realmente existia, pois estava na sua frente.

Santa Claus sentou-se em uma poltrona pomposa ao lado da gigante árvore de natal da casa e passou à liturgia que me explicou o anfitrião, com a leitura da cartinha de todas as crianças e a entrega dos presentes, inclusive com o Pedro, que mais que estar feliz com a sua iguana e a tartaruga de brinquedo, que havia escolhido em sua cartinha com duro esforço da Preta, não parava de olhar o Papai Noel.

Mas o ponto alto desta crônica é o Papai Noel. Melhor, o que ocorreu depois da distribuição de brinquedos e do Jantar. Justo que o bom velhinho, após a viagem extenuante do Polo Norte, estava com fome e se serviu para repor as energias.

Também tirou o seu pesado casaco vermelho, afinal, a temperatura de Belém é bem mais alta que a do Polo Norte. Na retirada do casaco, estava de suspensórios vermelhos e uma camiseta branca, com detalhes natalinos na frente, com a inscrição Merry Christmas. Sentou-se na ponta da mesa onde estavam os pais e se serviu de uma dose generosa de uísque.

Começamos a conversar, eu e o bom velhinho, cada qual com seu aperitivo escocês na mão e, de quando em vez, servíamos de mais uma dose e balançávamos o copo para apressar a diluição do gelo. Descobri que Santa Claus possui um irmão gêmeo, que também faz bico de Papai Noel durante o período natalino, principalmente no Shopping Boulevard, e que os dois fazem uma dobradinha, fácil quando são gêmeos idênticos.

Aliás, essa de um se passar por outro, vem desde a infância, no Bairro de Nazaré onde foram criados e moram até hoje. Infância que o seu irmão recebeu o apelido de "cara de meia" e o meu Papai Noel, por óbvio, recebeu o apelido de "irmão do cara de meia". Ainda que não precise explicar, o apelido vem do fato de que uma meia é sempre igual à outra.

E foi passando a noite, as crianças indo embora, e o Santa Claus contando estórias de sua infância e juventude, sorvendo cada vez mais doses de uísque e tira-gostos, desta vez vindo dos rechauds onde fora servido o jantar. Pedro, desconfiado com o Papai Noel sentado na mesma mesa que ele e o seu pai, olhava de soslaio, ainda mais quando saía algum palavrão contido.

Estava ficando tarde, o sono apertando e tinha que levar o Pedro pra casa, mas não sem antes ver o Papai Noel batendo de frente com um vidro, quando tentava atravessar uma porta envidraçada para fumar do lado de fora da casa.

Da base.