sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Politicamente correto

Me preocupa muito essa estória do politicamente correto. As pessoas certinhas, fazendo sempre o que é certo e execrando o errado, na perspectiva moralista de ser. É errado fumar, beber em excesso, tratar com falta de educação o próximo, direitos humanos, isto! os tão propalados direitos humanos, ser bom filho, bom pai, bom marido, etecetera, tudo para fazer o correto.

O interessante é notar que à esta política do correto, vem sempre a reboque o marketing pessoal. A estas pessoas a humildade não é uma característica, sempre fazendo apologia à sua corretude, ao seu jeito certinho de ser, divulgando o máximo possível para todos e, nesta época de mídias sociais, em todos os meios de informações possíveis.

Estas pessoas, a observação me mostra, que a carapuça acaba sempre quando está em jogo o seu interesse. Quando a discussão passa pelo direito dos outros em confronto com um interesse seu, vinga a máxima do “farinha pouca, o meu pirão primeiro”. São esses, sem exceções que eu tenha visto, os politicamente corretos dos primeiros anos deste milênio.

Uma parte desta classe, usa ainda a noção bíblica de livre arbítrio e acopla o nome de Jesus ou de Deus. Estes são os mais perigosos e pedantes. Digo sempre que, quando uma pessoa usa o nome de Jesus mais de duas vezes na mesma frase, pode se afastar que ele vai te enganar.

Os poucos que conseguem se afastar desta definição, as raras exceções, são simplesmente chatos.

Repudio, a cada dia que passa, mais veementemente, o politicamente correto e fico preocupado quando um se aproxima de mim, pois certamente é para me usar ou me enganar, ou mesmo me entediar.

Sou de uma época em que o exagero fazia parte da minha geração. A minha noção de livre arbítrio era o certo, o errado, e o resto, como conta a lenda que Cazuza disse uma vez ao seu pai.

O resto é o melhor. A própria palavra já choca e demonstra o que a pessoa é. O que sobrou, após ter sido deglutido, o marginal, o yuppie, o punk. Meus heróis são as duas lendas do que está a margem da sociedade, Cazuza, que dispensa comentários, e Rê Bordosa, a personagem de quadrinhos do Angeli, ambos mortos, ao estilo de Cid Vicious.

Não estou aqui para fazer uma apologia ao que está errado, ao mal ou ao fazer mal. Uma leitura mais detida do que disse acima, verificará que são três classes: o certo, o errado e o resto. O resto não é o errado. O resto não é classe do politicamente correto. Esta sim, está no errado, seja por sempre estar escondendo algo, seja por ser chato.

A pessoa precisa da imperfeição, do vício comedido, de algo que a torne mais humana. Como as mulheres: o que esperar daquela certinha, sem passado, com o corpo perfeito e que nunca se excede? O que esperar das mulheres sem celulites ou que não brincam? Elas podem até ser convenientes durante algum tempo, mas nunca serão companheiras, ou se tornarão apenas um troféu para os politicamente corretos, para voltar ao assunto.

Aliás, como mais uma forma contestadora, esta crônica, diferente do politicamente correto, não terá fim. Já disse o que queria: fim ao politicamente correto.

Acabou.

Da base, Belém, PA.

Um comentário:

Camila Cavalcanti disse...

Perfeito. Te amo. Preta