domingo, 28 de novembro de 2010

O Realejo

Eu, em uma escapada para um almoço rápido, me deparei no Bairro da Liberdade com um realejo, aquela caixa que, com seu operador girando uma manivela, toca uma musiquinha, que geralmente vem com um papagaio ou um periquito que tira um pequeno papel com a sorte do cliente.

Nunca tinha visto um realejo ao vivo, somente sabia que existia por livros ou desenhos animados. Fiquei encantado e, no princípio, um pouco envergonhado de pedir para tirar uma foto com o meu iphone. Comprei meu almoço em uma barraca na feira que estava, uma cerveja para criar coragem, e fiquei na ilharga do realejo observando os transeuntes "tirando" a sorte.

Quando não tinha mais ninguém, perguntei quanto era a sorte. Me respondeu, dois reais. Eu perguntei se podia tirar a foto. Me disse que sim e dei três reais. Muito pouco para a experiência. Se encontrá-lo vou dar mais.

O Senhor chamou: "Cristina, faz uma pose!", veio o periquito e entortou a cabecinha para o lado, parando para fazer a foto:


Depois, me perguntou: "solteiro ou casado". "Casado", respondi. "Cristina, tira a sorte do casado!". A periquita puxou um papel, que caiu na tábua e o Senhor me entregou:




Embasbacado saí do local, meio aéreo, nunca imaginava que o nível do realejo era tão alto, podendo fazer a diversão de qualquer criança, mesmo que esta criança tenha trinta e cinco anos, como aconteceu comigo.



Aliás, para quem quer saber, a minha sorte dada pela Cristina (foto abaixo) foi igualmente fantástica. Mas nem precisava, pois nenhuma sorte iria substituir a de conhecer um realejo.



De Sampa, SP.

La Tartine



Tenho que confessar, não me sinto confortável em São Paulo. Esse sentimento atribuo, primeiramente, ao meu desconhecimento de Sampa e, depois, que a Cidade me lembra doença, hospital, em virtude de por diversas vezes ter que me deslocar à Capital em busca de saúde. E, mais uma vez, estou aqui por este motivo. Espero e me esforço para que um dia esse sentimento, quanto à Capital dos negócios brasileiros, mude.

De volta ao que interessa, o fato é que um dos objetivos deste blog é a busca incessante pela comida que vale mais que o seu preço, se é que me faço entender. E um dos exemplos disso é o La Tartine (Rua Fernando Albuquerque, nº 267, Consolação, São Paulo, 32592090).

É um restaurante francês simples e com preço bastante acessível na capital paulistana. O cardápio possui somente comidas como saladas, quiches e entradas, além, é claro, das sobremesas. Todos os dias existe a sugestão de pratos mais elaborados, como no dia em que fui, cuja sugestão foi o steak au trois poivres, o filé a três pimentas (R$ 36,00), e o Salmão a L'oiselle, que vem com molho cítrico (R$ 34,00).

Com a simplicidade, o ambiente tornou-se despojado e agradabilíssimo, além da comida deliciosa e os preços acessíveis para um restaurante francês, e de São Paulo. A Carta de vinhos é pequena, mas com rótulos bastante variados e, principalmente, baratos. Pode-se comprar um francês de bom custo-benefício por quarenta reais.

Mas, se chegar no local e ver que o La Tartine não era o que queria na noite, existe a opção do restaurante ao lado, o Mestiço, restaurante contemporâneo de base tailandesa, refinado, que é impossível errar no gosto e no prato, mas que o comentário vai ficar para uma próxima postagem.


De Sampa, SP.

sábado, 27 de novembro de 2010

O Nobel de Literatura Brasileiro

Quando me perguntam qual é o meu escritor favorito, costumo dizer que não leio tanto a ponto de ter um escritor favorito e, mesmo que lesse, que o universo literário é tão vasto que seria no mínimo injusto eu ter um. Mas, digamos que tenho quatro escritores favoritos, que por acaso são, ou eram, amigos: o poeta chileno Pablo Neruda, o colombiano Gabriel Garcia Marquez, o peruano Mário Vargas Llosa e o brasileiro Jorge Amado.

A propósito, explico porque digo que eram amigos: Pablo neruda e Jorge amado já faleceram e o colombiano e o peruano estão brigados, por aparente diferenças ideológicas políticas. O segundo é assumidamente um liberal e o primeiro, comunista. Não apenas comunista, mas admirador de Fidel Castro e a favor da luta armada, se é que posso ser simplista para tratar desses escritores notadamente complexos.


Mas o fato é que, com o Nobel deste ano, a Mário Vargas Llosa, somente falta a Jorge Amado o título máximo da literatura, considerando que Garcia Marquez recebeu o seu em 1974 e Neruda em 1971, se não me falha a memória (memória no sentido de leitura destes fatos, pois não estava vivo durante estes acontecimentos).


Não sei se Jorge Amado não viveu o bastante ou se foi mesmo um injustiçado por ser o único dos notáveis da América do Sul que não recebeu o Nobel. Pablo Neruda conta, em seu Confesso que Vivi, que todo Nobel de literatura é envolto de extenso jogo de influências dentre os eventuais agraciados.


Lendo agora no Globo a crítica sobre o novo livro de Vargas Llosa, Sabres e Utopias - Visões da América Latina, dou-me conta que Jorge Amado não deve nada a nenhum destes escritores nobiliados, a despeito dos críticos que dizem que Amado é repetitivo e sempre trata do mesmo assunto. Aliás, o Autor de Gabriela e Tieta possui uma obra vasta e completa tanto quanto qualquer um desses. Ou mais.


Refletindo sobre os escritores, descubro que tenho sim um escritor favorito, Jorge Amado. Tenho até um livro favorito, que é O Sumiço da SantaNão sei se algum dia darão o Nobel a Amado. Não sei sequer se pode dar o título post mortem. Mas, se depender de mim, o Nobel é do Jorge.


De Sampa, SP.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ONG's

Na Peixaria Cacique, no Município de Itaituba, oeste do Pará, conheci uma família que me chamou atenção, mesmo sabendo que este tipo de família não é propriamente uma raridade na Amazônia. Ele, suíço e brasileiro, com todas as características da primeira nacionalidade, nascido em uma aldeia indígena há mais ou menos quarenta anos (se os meus olhos não me enganam), em virtude dos pais também serem suiços e indigenistas. Ela, brasileira, nascida em Jacareacanga, Pará, não sei se tem dupla nacionalidade, pedagoga. Se conheceram em uma aldeia.

Os filhos, um casal, lindos, a propósito. A mais velha, por volta de seis anos de idade, fala português, alemão e munduruku, e nos brindou, antes do almoço, com uma oração em alemão, em que agradecia pelos alimentos e pedia que todos que necessitem tenham alimentos tão bons quanto teríamos a poucos minutos. Aliás, me encantou muito mais a noção de solidariedade da criança do que propriamente saber falar alemão ou munduruku ou qualquer outra língua. O menor, com pouco menos de três anos, possuía características nórdicas, loiro e olhos azuis, mas com o toque regional da mãe.

A família divide o ano morando na aldeia dos Mundurukus, alguns meses no Município de Itaituba, dando assistência aos índios, e outros tantos meses na Suíça, onde capta recursos para a pequena Organização Não Governamental que presidem, que possui como objetivo a assistência aos índios daquela tribo.

A característica familiar é necessária para explicar que, em um dado momento da conversa, em volta do surubim que estávamos comendo, alguém questionou sobre os recursos que a ONG recebia, por quê eram somente estrangeiros. Ela, em um misto de tristeza e decepção, disse que os brasileiros ainda não estavam preparados para o trabalho que fazia, que não haviam a consciência de ajuda e proteção.

Falaram então de ajuda governamental. Ela, mais falante que Ele, ainda aparentando decepcionada, disse que ficou “arrasada”, palavras dela, quando montou um projeto para ajudar os índios Mundurukus a fazer em agricultura familiar, pois o extrativismo na floresta, seja de frutos, seja de peixe e caça, estava cada vez mais escasso e a saída seria o incentivo à pequena agricultura.

Não vou entrar na discussão de que as ONG's estrangeiras estão na Amazônia para pesquisar ou piratear as nossas reservas naturais. Nem sei se esta ONG é estrangeira ou tupiniquim. Mas o fato é que o Ministério das Cidades, para onde foi enviado o Projeto, negou a verba, sob o argumento de que não dão dinheiro para ONG's.

Ela, aparentemente com o sentimento de que o mais importante é a satisfação das necessidades dos Mundurukus, cedeu o projeto para ser viabilizado pela Prefeitura, não sei se de Jacareacanga ou de Itaituba,  não perguntei, e o tal projeto foi aprovado pelo Ministério das Cidades.

Foi liberado dinheiro e tratores, disse. O dinheiro, nunca chegou na aldeia. E os tratores, toda vez que procurava, estava fazendo trabalho na área de alguém.

Escrevo isso olhando do avião para a vastidão do oeste paraense, sobrevoando Alter-do-Chão, na Amazônia, e me perguntando quando será que nós, os Brasileiros, vamos ter a capacidade de cuidar de nós mesmo? Ou será que precisamos do estrangeiro para dizer-nos o que é importante?




Do vôo 5603, Itaituba – Altamira, PA.  

Peixaria Cacique

De passagem por Itaituba, oeste do Estado do Pará, conheci a Peixaria Cacique, sob comando da Dona Cacica (é isso mesmo!), uma cozinheira de mão cheia, atenciosa e divertida.



Possui os mais variados pratos de peixe, como o peixe na manteiga, a escabeche, caldeiradas baiana e paraense, tucunaré frito, peixe na chapa e alguns poucos pratos de filé bovino. O peixe, pode-se escolher entre diversos tipos, hoje, por exemplo, havia a disposição a dourada, o surubim e o tucunaré. Os pratos podem vir inteiro (de R$ 40,00 a R$ 45,00) e a sua metade (R$ 20,00 a R$ 25,00), sendo que a metade serve duas pessoas. Não deixe de pedir, se o seu prato não vier como acompanhamento, uma porção de pirão, que é delicioso e diferente de qualquer outro que comi.



Se gosta de bebida destilada ou vinho (que um rótulo pode ser garimpado nos supermercados de Itaituba), leve a sua, pois o estabelecimento somente serve cerveja, geladinha.



O endereço da Peixaria Cacique é típico do local, ou seja, fica na 7ª Rua da Liberdade, na Rodovia Transamazônica, entrando pela TMC (que significa Transamazônica Materiais de Construção), s/nº, Itaituba, Pará, tel (93) 91753824.


P.s.: Na foto acima o nome do estabelecimento está como Peixaria Altas Horas que, segundo a Dona Cacica, foi uma época que ela viajou e o seu filho colocou este nome, mas a própria diz que não gosta, então o nome é Peixaria Cacique. Neste caso, é a proprietária que tem razão, acho.

De Itaituba, PA.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Casa D'Noca

Nova proposta de bar e restaurante em Belém é a Casa D'Noca, situada na 9 de Janeiro, nº 1677, entre a Avenida Magalhães Barata e a Gentil Bittencourt, bem em frente ao portão lateral do Museu Emilio Goeldi (Tels: 81625958 e 32291792).

Instalada em um casarão antigo, típico de Belém, muito bem reformado mas mantendo as suas linhas originais, é um bar no estilo carioca, com cardápio também para refeições, servindo petiscos, pratos para almoço e jantar, sanduíches e os caldinhos de feijão e tucupi, além da cerveja original, e outras, bem gelada.

No sábado, a pedida é a feijoada (R$ 35,00), muito bem servida, que comeu eu e a Preta e ainda sobrou, acompanhada do bom chorinho, com direito a flauta e banjo. Nos demais dias, música, incluindo samba e pagode, tudo ao vivo, bastando conferir a programação do dia.

Da base, Belém, PA.

Carta do Velho Jarbas

Recentemente houve uma feliz e inusitada descoberta pela minha irmã Karime: Achou uma Carta de meu avô Jarbas de Amorim Cavalcanti, enviada aos meus pais, naquela época em que as cartas eram mais usuais que os telefonemas.

Reclamando muito de meu pai, o Zezinho, pois não ligava, não escrevia e não dava satisfação das ações pendentes (parece-me que foi na época em que o meu avô e o meu pai possuíam um escritório de advocacia juntos), o Velho Jarbas, como se autodenomina, demonstra um humor inteligente e ácido, pedindo socorro à minha mãe, Marília, para controlar o meu pai, afirmando que parecia que este estava mais preocupado com a Escola de Samba macapaense, o Piratas da Batucada, do que entrar em contato com a família que morava aqui na Capital paraense.

Fala também da minha Avó, Olga Cavalcanti, do meu avô, Nadyr, e do meu primo, o Maurinho, que possuía, na época, três anos, enquanto eu, dois, e a Karime, um. A Karem, minha outra irmã, sequer tinha nascido.

Meu avô paterno faleceu jovem, na mesma data em que completei quatro anos, motivo este que quase não lembro dele. Das recordações, somente as que me contam, de ser uma pessoa muito culta, falava latim e francês fluentemente e com dois livros publicados, em uma época em que tudo era muito mais difícil, e ainda era apaixonado pela minha vó e pela minha mãe. Tudo isto acabei de confirmar nesta carta que li dele, mesmo que seja bastante informal.

Segue a carta, ainda na máquina de escrever:




Da base, Belém, PA.