quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A Imperfeição

Ouso dizer, afirmo e confirmo, que a beleza está na imperfeição. Nada é mais belo que algo imperfeito, ainda mais nestes tempos em que a busca espartaniana do perfeito está cada vez mais latente. 


Explico: Cada dia que passa as pessoas se exigem mais. Tenho que ter o corpo bonito, mais malhado, tenho que ser o melhor profissional, tenho que ser um bom pai, uma boa mãe, o melhor esportista, o primeiro da turma, da universidade, o melhor profissional, o mais bem sucedido, o esteticamente correto, o politicamente certo. O certo, nunca admitindo a pequena falha, por menor que seja.

Já escrevi algumas linhas tempos atrás por aqui acerca do politicamente correto e que, na maioria das vezes não é real e, quando é, torna as pessoas chatas, o que é imperdoável. Portanto, não vou chover no molhado.

Voltando ao tema, o amor ao imperfeito tem como constatação empírica dois exemplos, minhas paixões - no que pese existirem muitos outros e possivelmente gerarem um livro se decidir enumerá-los -: os vinhos e as mulheres.

Sou apenas um enófilo, mas nada mais enfadonho que um vinho estruturalmente perfeito e equilibrado. Para que serve um bom vinho, geralmente caro, se se sabe o que vai se esperar dele. O olor, a cor, a persistência e todas as demais características corretas e sem defeitos que o faz excelente, mas que, ao final, sabe-se excelente, porém, sem nenhuma surpresa.

Da mesma forma as mulheres. Vejo mulheres hoje usando de todos os artifícios para ficar mais bonitas. Uma busca incessante pela beleza que passa, invariavelmente, pela academia e pela anorexia. E, o que é pior, muitas vezes não é a sociedade, mas a própria mentalidade da era atual que diz que somente sendo magra e malhada é que a mulher vai ser bonita. Criamos um exército de mulheres padrões, iguais, com corpos espetacularmente certos que, se não se deve à malhação, se deve ao bisturi.

Não estou fazendo qualquer ode ao "embagulhamento" feminino, muito menos tirando o pão dos cirurgiões plásticos. Por favor, não interpretem mal. Durante esses alguns anos de blog, todos já devem saber que, se for para ficar feliz, sou o maior incentivador, desde pular de pára-quedas até fazer tatuagem na polinésia com dente de tubarão.

O que condeno é a imposição da sociedade da beleza padrão, perfeita e a qualquer custo.

Lembro de um artigo que li, há muitos anos atrás, em um jornal diário, do Paulo Cal, que era amigo de infância do meu pai, que o tema central era as celulites. Dizia ele, se a minha memória não falha virtude do tempo, que as mulheres sem celulites não possuem estórias para contar, pois passam os seus dias em academias  e se privam de diversos prazeres da vida em busca do corpo perfeito. As mulheres com celulites sim, te acompanham e pedem a sua caipirosca e vivem a vida, se bem entendi do artigo.

Não quero ser tão radical e também infirmar o artigo, pois se, quem quer que seja, curtir academia ou a perfeição, deve os seus objetivos perseguir, como um hedonismo saudável.

Mas, certamente, o perfeito não é o belo. O belo tem que ter algo de errado, de diferente, de surpresa. De surpreendente.

Como exemplo, conta a lenda que Diego Rivera, o marido promíscuo de Frida Kahlo, se apaixonou pelas marcas de acidente que ela possuía. Logo ele que era um pintor e que se exigia o perfeccionismo. Quem sou para discutir? Melhor, não discuto por convicção, pois por convicção o belo não estão no perfeito, mas na diferença e, principalmente, na alegria modesta da pessoa de se achar bela.

O vinho, como a mulher, tem que ter um quê de imperfeição, que os diferencia e que os fazem ímpar. Que nos surpreende e que nos faz amá-los. Amá-los não cegamente, muito menos por serem perfeitos, ao contrário, mas pelo fato de serem imperfeitos, como a condição humana.

E aí está a beleza da imperfeição, a surpresa e o fato de não ser comum, que torna as pessoas mais humanas e mais reais.

Da base.

Pedro de Nóvoa Cavalcanti ou, o nascimento de um Bebê

Achei perdida esta crônica de mais de dois anos atrás que, agora relato como escrevi na época, com algumas correções necessárias:


Este blog não foi feito para registrar acontecimentos da minha vida, mas para passar experiências aos que estiverem na mesma situação possam usá-las e tirar as suas próprias conclusões. Por este motivo, pretendo descrever o nascimento do meu filho, Pedro de Nóvoa Cavalcanti, apenas como uma experiência a orientar um pai como eu, de primeira viagem, sem qualquer referência subjetiva e ilações de cunho pessoal.

A criança mais linda deste mundo, a mais amada e esperada, nasceu às 7:12h, com 3,2kg e 56cm de altura. Melhor, de comprimento. Os preparativos para a sua chegada começaram três dias antes, da forma mais consistente. Digo isto porque, como todos sabem, na hora que o "casal" sabe que "está grávido", os preparativos se iniciam, mas, o que conta mesmo são os três últimos dias ou a partir da última consulta neonatal, quando se marca a data do parto, se for cesariano.

Eu sabia tudo de gravidez e parto. Me inscrevi em três sites de bebês e recebia emails diários, um deles bastente extenso, que me deixava informado de tudo sobre a gravidez. Meu primeiro conselho: não saiba tudo de gravidez e parto, pois a pessoa fica paranóica, pensando nas doenças que a criança pode ter, o que pode acontecer com a mãe, etc. Tente fazer uma leitura superficial da gravidez, aprendendo somente o necessário e, principalmente, segundo conselho, quando qualquer pessoa vier falar sobre alguma desgraça relacionado à criança ou à gravidez, diga que você não quer saber ou, simplesmente, não a escute, pois você vai certamente relacionar o comentário à sua criança ou à sua companheira. E você vai ver que a quantidade destas pessoas é muito maior do que você imagina. Se possível, exclua a amarga do seu convívio, até nascer o rebento, ou para sempre, se possível.

Voltando ao assunto, mesmo que as malinhas da mãe e do bebê estivessem prontas há quinze dias, você somente começa a pensar no parto com a data marcada. No meu caso foi segunda-feira, que por um motivo irrisório, a Preta brigou com ela mesma. Digo isso porque não se pode retrucar em nenhum momento, pois, mesmo que se esboce uma reação, o primeiro pensamento que vem é a antecipação do parto e a preocupação que eventual clima pesado pode trazer ao nascimento da criança. Então fique calado, deixando a outra falar e, mesmo calado, não espere que a briga vá ser menor do que outras que você teve. Certamente vai ser pior e, pior ainda, sem você ter qualquer direito de ficar chateado, pois a prioridade sempre é o filho e, mais, nunca vi uma grávida perder a razão, mesmo que você esteja calado. Usando o dito popular, nestes casos, calado já está errado.

Três dias trabalhando e três longas noites sem dormir depois, chego, estraçalhado e nervoso, às vésperas do nascimento do bebê. Precisava dormir bem, afinal, o dia seguinte era o grande dia. Jantamos cedo, pois a médica havia marcado o parto para as seis horas da madrugada, horário esse que somente conhecia quando amanhecia nos bares em outras épocas. Não se pode comer muito, pois a Preta ia passar por uma cirurgia e eu ia, e fui, assistir o parto e tinha que me precaver contra os efeitos do excesso de comida.

Aliás, a decisão de assistir o parto é muito complexa e, como se verá abaixo, tem que ser muito bem pensada para pais, como eu, que são de primeira viagem, pois as cenas são fortes e requerem um organismo muito bem equilibrado. No meu caso, a decisão foi simples e rápida: a Preta decidiu! Na primeira consulta do prénatal, a médica me perguntou: Tu vais ver o parto? A Preta, imediatamente e com a singelesa das decisões ditatoriais, respondeu: Vai. 

Pronto, estava decidido. E não podia falar nada, pois, se "estávamos grávidos" e ela iria passar por uma cirurgia, porque eu não poderia simplesmente assistir o parto? A lógica é irrefutável, e a decisão foi menos dolorida quando a Preta bateu o martelo por mim. 

No que pese a minha atitude tragicômica, não me arrependi em nenhum momento em ter assistido e, conta a minha moral imaginária e ilusória, fui essencial no parto do Pedro!

Depois de chegarmos por volta das 6h da manhã na Maternidade Saúde da Criança, com horário militar ou de insones, como estávamos, fomos para o quarto e logo chegaram a minha mãe e os pais da Preta. Todos nervosos e apreensivos. Recebemos a visita pouco depois das médicas do parto, Dras. Janete e Lia, uma prima e outra ginecologista que cuidou da Preta durante toda a sua vida e deixou de se aposentar dos partos somente para ter no nosso rebento na mão. Benza Deus, em uma linguagem popular.

Levaram a Preta de maca, com uma feição de pânico e pedindo que eu a acompanhasse. O Dr. Altino foi atrás e eu correndo sem saber o que fazer.

Entramos, eu e o meu sogro, em um closet - sei lá como era o nome do local e também não vou me preocupar em relatar agora, pois estou escrevendo sentindo a aflição da época -, que estavam as roupas verdes para entrar na sala de cirurgia. O meu sogro, médico pediatra, logo se vestiu, sem se preocupar com nada, tirando a sua roupa e colocando aqueles macacões, toucas e umas pantufas rudimentares parecidas com as toucas próprias para os pés. Enfim, equipado com toda a indumentária verde com cara de seriado americano ao estilo de Plantão Médico.

Olhou para mim e disse: - cuidado que existe muito furto aqui. Ele levam tudo que tu deixas.

Quando baixei para olhar alguma coisa ou esconder algum pertence, o velho Altino desapareceu! Não sabia sequer por onde tinha saído! Pelo pouco de lucidez que me restava saí, resoluto, com minha armadura de lona verde e meu capacete para chuveiros, a ajudar minha amada no resgate do meu rebento, pela porta oposta a que tinha entrado! Mas absolutamente apavorado! Menos, porém, que o meu sogro!

Saí procurando, no centro cirúrgico, de porta em porta, e perguntando. Sorte que era antes das 7h da manhã, mas ainda encontrei alguém, com a mesma armadura, que me disse para sair e que não dei muita conversa e continuei procurando, sem mais perguntar. 

Encontrei o velho Altino barrado em uma porta pela pediatra da equipe da Dra. Janete e presenciei, com orgulho, a própria Dra. Janete dizendo com firmeza: - Pode deixar ele entrar! Ele já segurou mais crianças em parto que nunca vais pensar em segurar!

Entrei no vácuo do pediatra! Renovado e confiante! Confiança esta que em poucos segundo terminou quando a prima Lia olhou para mim e disse "cuidado com a bandeja", que era a de bisturis que estava ao meu largo, mesmo tendo a certeza que ela estava longe quando eu passei e que não havia qualquer descuido meu! Óbvio que mesmo assim, colei as nádegas na parede, com a câmera de fotografia até então inútil e esquecida que a Preta também me obrigou a entrar com ela.

Pediram para eu sair na hora da anestesia. Me chamaram quando passou o efeito inicial. Dei um breve cafuné no cabelo da Preta e colei de novo as costas na parede e deixei o Pediatra Altino, fora do serviço, fazer a quádrupla função de pediatra assistente, marido, avô e pai.

Estávamos na cabeça da Camila, quando a pediatra, Dra. Mariana, me olhou esquecido no fim da sala de parto, e me disse quase sussurrando: "venha aqui deste lado", chamando para ir aos pés da Preta.

Parti para o lado oposto, tentando que ninguém notasse a minha presença. E ninguém notou. Quando cheguei do lado da doutora, sempre encostado na parede, ela fez um sinal para a máquina de fotografias e comecei a fotografar freneticamente!

E saíu o moleque! Comprido, magro e lindo, mesmo envolto no sangue e no esbranquiçado da placenta! Não chorou logo, mas chorou depois... Contido... Mas que aplacou a aflição de todos da necessidade de chorar!

Doutora Lia, enquanto a Dra. Janete se preocupava com o fim do parto, levou o Pedro, bíblico, na cabeça da mãe para o primeiro beijo e a Preta, em um misto de alegria e preocupação, olhava e chorava com a criança.

De repente a pediatra Mariana recolhe o rebento e sai com pressa e o Pediatra visitante, Altino, sai correndo atrás! 

Bom, tinham dois, um deles avô e médico parteiro. Fiquei com a minha mulher! Ouvi taxativa uma voz de baixo: - "vai com o meu filho!" Ainda argumentei: - Teu pai está lá e vou ficar com você! Ela diz: - "vai agora ver o Pedro!"

Claro que fui! O Pedro estava ótimo! Tudo procedimento normal! Moleque lindo e saudável! Aliás, nunca vi o meu sogro tão feliz, segurando a criança com aquela máscara cirúrgica mal tirada do rosto e fazendo pose para a máquina fotográfica!

E, como disse no primeiro parágrafo, esta crônica é absolutamente impessoal e somente para o aprendizado dos demais pais de primeira viagem... mas meu filho é a criança mais linda do mundo!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Faroeste Caboclo, O Filme



Digno da música homônima e com roteiro baseado nesta, Faroeste Caboclo me fez sentir um filme brasileiro excelente que há alguns anos não via.

Perto dos filmes cults enfadonhos bem produzidos, mas longe dos besteiróis, muitas vezes sem graça, do novo cinema brasileiro (esse novo é meu, leigo e sem técnica, e muito menos sem querer comparar com o movimento iniciado por Glauber Rocha), o filme passa pela temática da menina da Zona Sul carioca que se apaixona pelo traficante do morro, mas locacionado em Brasília Com uma grande diferença, se baseia na eterna música do Legião Urbana e com um roteiro próprio e original.

Se passa nos anos 80, no fim da ditadura militar não muito aparente, mas presente, em Brasília e Planaltina, com figurino e fotografia ótimos e, principalmente, com trilha sonora do Planalto Central, com pitadas de discoteca, Clash, Billie Idol e Sex Pistols.

Um filme forte, com atuação marcante de Fabrício Boliveira.

A faixa etária é para os maiores de 16 anos, mas aconselho somente para os maiores de 18, acompanhado de uísque.

Da Base.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel Garcia Marquez



Acabei de ler, neste momento, uma bela estória de amor do Nobel de Literatura Gabriel Garcia Marquez, O Amor nos tempos do Cólera, que narra a paciência e a paixão sem limites de Florentino Ariza por Fermina Daza.

Assisti o filme há alguns anos atrás, homônimo, que é muito bom, mas nem de perto chega à excelência das pouco menos de 500 páginas do livro, que ainda tive o privilégio de ler na língua em que foi escrita.

Passado em um pequeno povoado do Caribe, provavelmente na Cidade de Cartagena Das Índias, no Caribe colombiano, a novela perpassa por cerca de oitenta anos dos protagonistas e pelo Dr. Juvenal Urbino, marido de Fermina Daza, culminando com narrativas sobre o amor e a sexualidade no final - ou início, quem sabe? - da vida.

Conta a lenda que o início e o enredo da obra foi baseada na estória do pai de Dom Gabo, que era telegrafista e que o seu avô materno tentou impedir a mãe de casar a mandando para uma viagem. Talvez por esse motivo que Garcia Marquez considere esta a sua melhor obra, melhor incusive que o célebre Cem Anos de Solidão, que ganhou o prêmio máximo da literatura em 1982.

É primorosa a reflexão sobre os relacionamentos e a sociedade do final do século XIX e início do século XX, com uma narrativa corrente, mas nem sempre cronológica.

Mais um de Gabo que confirma que é merecedor do Nobel e muito mais.

Da Base.

sábado, 5 de outubro de 2013

A Imperfeição

Ouso dizer, afirmo e confirmo, que a beleza está na imperfeição. Nada é mais belo que algo imperfeito, ainda mais nestes tempos em que a busca espartaniana do perfeito está cada vez mais latente. 

Explico: Cada dia que passa as pessoas se exigem mais. Tenho que ter o corpo bonito, mais malhado, tenho que ser o melhor profissional, tenho que ser um bom pai, uma boa mãe, o melhor esportista, o primeiro da turma, da universidade, o melhor profissional, o mais bem sucedido, o esteticamente correto, o politicamente certo. O certo, nunca admitindo a pequena falha, por menor que seja.

Já escrevi algumas linhas tempos atrás por aqui acerca do politicamente correto e que, na maioria das vezes não é real e, quando é, torna as pessoas chatas, o que é imperdoável. Portanto, não vou chover no molhado.

Voltando ao tema, o amor ao imperfeito tem como constatação empírica dois exemplos, minhas paixões - no que pese existirem muitos outros e possivelmente gerarem um livro se decidir enumerá-los -: os vinhos e as mulheres.

Sou apenas um enófilo, mas nada mais enfadonho que um vinho estruturalmente perfeito e equilibrado. Para que serve um bom vinho, geralmente caro, se se sabe o que vai se esperar dele. O olor, a cor, a persistência e todas as demais características corretas e sem defeitos que o faz excelente, mas que, ao final, sabe-se excelente, porém, sem nenhuma surpresa.

Da mesma forma as mulheres. Vejo mulheres hoje usando de todos os artifícios para ficar mais bonitas. Uma busca incessante pela beleza que passa, invariavelmente, pela academia e pela anorexia. E, o que é pior, muitas vezes não é a sociedade, mas a própria mentalidade da era atual que diz que somente sendo magra e malhada é que a mulher vai ser bonita. Criamos um exército de mulheres padrões, iguais, com corpos espetacularmente certos que, se não se deve à malhação, se deve ao bisturi.

Não estou fazendo qualquer ode ao "embagulhamento" feminino, muito menos tirando o pão dos cirurgiões plásticos. Por favor, não interpretem mal. Durante esses alguns anos de blog, todos já devem saber que, se for para ficar feliz, sou o maior incentivador, desde pular de pára-quedas até fazer tatuagem na polinésia com dente de tubarão.

O que condeno é a imposição da sociedade da beleza padrão, perfeita e a qualquer custo.

Lembro de um artigo que li, há muitos anos atrás, em um jornal diário, do Paulo Cal, que era amigo de infância do meu pai, que o tema central era as celulites. Dizia ele, se a minha memória não falha virtude do tempo, que as mulheres sem celulites não possuem estórias para contar, pois passam os seus dias em academias  e se privam de diversos prazeres da vida em busca do corpo perfeito. As mulheres com celulites sim, te acompanham e pedem a sua caipirosca e vivem a vida, se bem entendi do artigo.

Não quero ser tão radical e também infirmar o artigo, pois se, quem quer que seja, curtir academia ou a perfeição, deve os seus objetivos perseguir, como um hedonismo saudável.

Mas, certamente, o perfeito não é o belo. O belo tem que ter algo de errado, de diferente, de surpresa. De surpreendente.

Como exemplo, conta a lenda que Diego Rivera, o marido promíscuo de Frida Kahlo, se apaixonou pelas marcas de acidente que ela possuía. Logo ele que era um pintor e que se exigia o perfeccionismo. Quem sou para discutir? Melhor, não discuto por convicção, pois por convicção o belo não estão no perfeito, mas na diferença e, principalmente, na alegria modesta da pessoa de se achar bela.

O vinho, como a mulher, tem que ter um quê de imperfeição, que os diferencia e que os fazem ímpar. Que nos surpreende e que nos faz amá-los. Amá-los não cegamente, muito menos por serem perfeitos, ao contrário, mas pelo fato de serem imperfeitos, como a condição humana.

E aí está a beleza da imperfeição, a surpresa e o fato de não ser comum, que torna as pessoas mais humanas e mais reais.

Da base.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A Volta Grande do Xingú

No dia 09 de janeiro deste ano, cheguei em Altamira para participar de audiência publica de um projeto de mineração que, se licenciado ambientalmente, se situará em uma localidade denominada Vila Ressaca, cerca de 40 quilômetros rio abaixo, no Rio Xingú, passando por onde vai ser Hidrelétrica de Belo Monte, na conhecida Volta Grande do Xingú.

O meio de transporte mais rápido são as lanchas, um pouco maiores do que se tem a noção de lancha, com capacidade para cerca de 10 pessoas.


Em face do desconhecimento mais aprofundado acerca da hidrelétrica de Belo Monte, não tinha opinião formada quando confrontada com opiniões de ambientalistas e do governo Federal.

A lancha logo tomou uma velocidade alta, daquela capaz de deixar os cabelos femininos esvoaçados, e comecei a me deslumbrar com a região e com a viagem.

O Rio Xingú é um rio escuro, daqueles que brilham quando os raios do sol batem em seu leito, diferente dos rios café com leite típicos da Amazônia, como é o caso do Tapajós.


A paisagem também distingue das demais amazônicas. É uma transição da floresta tropical para o cerrado, uma mistura dos dois meio ambientes. Com ilhas de pedras no meio do rio e mesmo pedras esparsas, que exigem exímia destreza dos motoristas das lanchas que serpenteiam o rio desviando e procurando o melhor lugar para não bater.



As praias, uma espécie de faixa de terra que desponta nas margens, tão comuns nos rios paraenses, aqui são raras, mas existentes, aparecendo como um oásis seco, na imensidão das águas.


O deslumbramento foi imediato, o meu iPhone não parava de clicar a natureza, mesmo com o risco de queda na água com a velocidade da lancha. A vegetação, os pássaros, mergulhões e outros, as praias paraisídicas, as corredeiras, as ilhas de pedras, somente quebradas com uma ou outra casa de ribeirinhos, que também são raras, ou pequenas vilas na beira do rio, cada vez mais aumentou o deslumbramento desse lugar único, mesmo já tendo andado por esse Pará de proporções continentais.

A beleza é singular e o ecossistema, nunca havia visto igual nos quatro cantos do Pará.

De repente, vejo a grande construção. O colosso da barragem de Belo Monte, invadindo o rio como dois gigantescos muros, ainda aberto, permitindo a nossa passagem.



Me explica uma pessoa que tudo que ficou para trás será alagado quando a construção da barragem for concluída, e este paraíso ficará submerso.

Na volta, deixei as fotos de lado e simplesmente curti a vista, tentando identificar os pássaros que passavam, pausando tão somente para escrever estas linhas que, em uma hora e meio de viagem não consegui concluir, ante a hipnose que a paisagem me causou.

Acabo de escrever no retorno do hotel, com o sentimento misto de decepção e revolta, por o Brasil deixar esse paraíso ir para o fundo.

De Altamira para Vila da Ressaca e no retorno.

sábado, 21 de setembro de 2013

Giannis


Depois do sucesso do Daniel's, restaurante de carnes do mesmo grupo, fomos no seu irmão italiano Giannis, que atendeu perfeitamente as expectativas com excelente cardápio, carta de vinhos e atendimento, além da comida em si.

Neste dia pedimos uma entrada que não estava no cardápio, um mix de mussarela de búfalo, muito bem feita e deliciosa, presunto de Parma, pimentões tomate, que atendeu muito bem eu e a Preta apenas um prato.


Como prato principal, fomos de lagosta, que uma também nos atendeu.


Excelente restaurante, além de ser bastante agradável, tanto dentro como a sua sacada, que agradou até mesmo com o peixinho frito do menu kids.

Também no complexo de lojas e restaurantes de Palm Beach. Www.giannisgroup.com.

De Aruba.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Quatro turistas no Mirabelle, em Roma

Indicado por um amigo que frequenta os melhores locais, em uma noite fria de Roma, eu, Carla, Alex e Preta decidimos encarar o restaurante Mirabelle, o mais sofisticado restaurante que frequentei. Basta se dizer que a vista do restaurante era para a cúpula da Igreja de São Pedro, no Vaticano. 

Mesmo que tenhamos ido com o esclarecimento de que era caro pela pessoa que nos indicou, no início ficamos estupefatos pelo preço do cardápio. Mas, enfim, tentávamos pensar que já era esperado, relaxar e sempre com o pensamento de provar tudo. Fomos de menu degustação, portanto. Eu, de pronto, pedi a carta de vinhos, na qual o garçom pediu para esperar.

Pouquíssimo tempo depois, apareceu o Sommelier do local. Um homem esbelto, por volta de 40 anos, com a beleza dos italianos e impecavelmente vestido de meia casaca, além do cabelo cuidadosamente penteado para trás e seguro com gel. A fina elegância se via também no seu modo de falar e nas suas boas maneiras, mas sempre impessoal e distante.

Pedi para me ajudar a escolher um Brunello de Montalcino, que fez com uma destreza ímpar.

Os pratos começaram a vir. Sou amante da boa cozinha mas, confesso, me pareceu que o Chef estava mais preocupado com a aparência e com um experimentalismo na comida, que necessariamente com o seu sabor. Enfim, fomos comendo pequeníssimas porções uma atrás da outra, que pareciam que não iam ter fim. 

Estávamos sentados no meio do restaurante, que obrigatoriamente qualquer pessoa teria que passar pela nossa mesa, mas uma pilastra impedia de vermos o final do restaurante. Chamou-nos a atenção uma senhora idosa, que falava muito alto, que vestia um casaco de pele digno de um rapper americano.

Quando chegou, a Senhora parou brevemente em frente da nossa mesa e tirou o casaco, entregando ao Maitre,  estando por baixo um tubinho preto, muito curto e colado, com decotes no colo e um grande nas costas, que deixava transparecer a magreza de uma modelo anoréxica com as peles caídas em virtude da idade, idade esta que aparecia em seu rosto, mas nem tanto quanto no seu corpo, talvez em virtude de algum botox ou plástica.

A seu reboque passou um Senhor, com um sorriso bobo estampado no rosto, em uma cadeira de rodas elétrica que mais parecia um veículo lunar, de terno e aparentando ter, se fosse possível, o dobro da idade da já idosa senhora. Parecia ser seu marido ou amante. O seu segurança vinha ligo depois.

Em meio aos pequenos pratos que vinham a nossa mesa, somente ouvíamos as gargalhadas e os comentários altos da Senhora, passando vários garçons para o fundo do restaurante, algumas vezes com garrafas de champanhe, que pareciam estar paparicando o casal.

De repente um estrondo! 

Parecia um tiro ou algo similar no fundo do restaurante! As poucas mesas ocupadas ficaram em um silêncio atônito, sem saber o que acontecia. Da nossa mesa, somente se viu o Maitre, o Sommelier e vários garçons correndo para o fundo, para acudir alguém, provavelmente a Senhora, eis que as gargalhadas e a fala alta cessaram!

Quando se vê, o Sommelier, antes tão sério e elegante, passa apressado em direção da porta. Desta vez totalmente sem compostura, para em frente a nossa mesa, flexiona levemente a perna esquerda, une o joelho esquerdo ao direito, baixa a cabeça e segura a parte de cima do nariz, entre os olhos, com o dedo indicador e o polegar direitos, e solta com uma voz afeminada em italiano:

- Vou morrer lá fora e já volto!

Havia sido tão somente o pneu da cadeira de rodas que estourou.

E o final da noite? Além de uma conta digna de Sheiks do Petróleo, sai a senhora, bêbada, sendo sustentada por dois garçons, com o seu casaco de peles, vindo logo atrás o seu suposto marido, carregado no colo pelo seu segurança.

A comida não me agradou, mas a experiência foi única.



Serviço: www.mirabelle.it. Sempre façam reservas. Possui a nota 4.5 de 5 no tripadvisor e foi vencedor no site no ano de 2012.

De Aruba.

Hard Rock Café Aruba, Señor Frog e Cassinos

Vim desta vez para Aruba com meu pequeno Padawan e, portanto, estou longe das baladas e esportes radicais. Mas não custa nada observar a movimentação notívaga, ainda mais, pelo que me parece, a noite começa cedo por aqui. Não sei se termina tarde pois, como disse, meia noite é o limite do Padawan.

O forte de Aruba são os casinos que, não vou me manifestar, pois não freqüentei nenhum deles, além de não gostar e, como sabem, somente indico o que freqüentei e comprovei. Mas, como boas opções, temos o Hard Rock Café e o Señor Frog.

Todos os dias tem uma banda no Hard Rock Café Aruba. Aliás, a de ontem a noite, se arriscou inclusive no solo de guitarra de Sultan of Swing. Começou por volta de 21h.  e, por isso, consegui jantar e levar o meu Padawan, que se abismou um pouco com o barulho - na melhor acepção desta palavra -, mas se divertiu muito.


No retorno para o resort, por volta de 23h, passei por um bar bastante animado, com um DJ tocando música internacional e vários turistas dançando enlouquecidamente  em uma pequena pista de dança. Parecia que a festa e as paqueras iam longe. Era o Señor Frog.


Os dois locais são próximos um do outro, ambos no complexo de restaurantes e lojas de Palm Beach.

Mas, como disse, o forte de Aruba, são os cassinos.

De Aruba.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Cervejas de Aruba

Como em todo local, procuro não apenas conhecer como também incentivar os produtos locais. Em Aruba, conheci duas cervejas de fabricação na ilha, que mesmo não sendo conhecedor de cervejas, vale o meu incentivo. 

A primeira é da fábrica Balashi, a cerveja Balashi, pilsen, com sua versão também em chopp, meu preferido, aliás.



A segunda, que li em algum lugar é (ou era) a única do mundo feita com água dessalinizada. Servida com um pedaço de limão - que logo empurrei para dentro da garrafa, mesmo não sabendo se era assim que se fazia, a Amstel Bright, também muito gostosa, que bebia desde a primeira vez que aqui estive, em 1997, com o meu amigo Edney e que, na época, com parcos recursos de estagiário, era a mais barata.



De Aruba.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Daniel's

Em Palm Beach, praia de Aruba, está o Daniel's, um restaurante especializado em carnes, ou melhor, como dita o norte-americanismo, em steaks. É um dos restaurantes mais sofisticados dos diversos outros que têm na via, aliás, me parecendo que todos merecem uma visita. O mais famosos é o seu irmão Giannis, não de similaridades, mas por serem filhos do mesmo dono e com a mesma sofisticação.

No início relutei em ir, afinal, onde teria uma cabeça de gado nesta pequena ilha (?!). Mas, depois de três dias na dieta de frutos do mar, encarei a sugestão do Frank, um mensageiro do Resort Westin Aruba, onde estou hospedado, mas que poderia muito bem ser o concierge, e dos melhores! Ainda me deu um cartão assinado por ele me dando o direito de tomar duas taças de vinho grátis ou 10% de desconto, a minha escolha. Não me pergunte, não usei o cartão, mas tentarei usar no Giannis.

Pois bem, vamos ao que interessa: comi um corte chamado porterhouse, uma espécie de T-bone avantajado, e a Preta um filé, ambos deliciosos! Aliás, a carne foi ovacionada inclusive o prato para crianças, que o Pedro devorou junto com um purê de batata! acompanhamento, meu, foi uma mistura de batatas, cebolas, bacon e tomilho, e o da Preta um risoto aos quatro queijos. Tudo muito bom.


Acompanhei o jantar com um merlot chamado Francisco Coppola, que pedi mais pelo nome do cineasta que por qualquer outra indicação. A Preta adorou.



O Daniel's fica no complexo de restaurantes e lojas de Palm Beach, especificamente na J. E. Irausquin Blvd 348, www.giannisgroup.com, atrás do Radisson.

De Aruba.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Duff Beer em Manaus

Não sou nenhum conhecedor de cervejas, mas já sabia que existia. Para a reinauguração do meu blog, a pedido do meu amigo José Eduardo, indico (e brindo) a Duff Beer, uma cerveja lager, com sabor marcante, que agora bebo no Mr. Beer, um quiosque especializado em cervejas, do Shopping Manauara, em Manaus, Amazonas.



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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sorriso


Voltando agora de Londres, a lembrança que não me sai da cabeça não é a dos Black cabs, do Big Ben ou mesmo da altivez dos londrinos, mas a da amabilidade destes, principalmente de um dia, no imenso metrô inglês, quando a Preta foi pedir informações e comprar o passe e o atendente, com um sorriso e solícito, nos ensinou como chegar a nossa estação e disse:
- eu adoro os brasileiros, eles sempre sorriem!
Antes de conhecer Londres, era difícil imaginar um inglês falando isso. Hoje, não.



Da base.


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