quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A esperança

Estou saindo do Município de Primavera, onde acabo de participar de uma audiência pública que visa esclarecer a população daquele Município, assim como dos Municípios vizinhos de Quatipuru, Peixe-boi, Salinópolis, São João de Pirabas e outros, sobre os impactos ambientais da implantação de uma fábrica de cimento na localidade.

Não vou discutir aqui acerca do mérito de ser bom uma mina de calcário e uma fábrica de cimento na região, muito menos vejam, caros leitores, qualquer opinião acerca do dilema meio ambiente x industrialização, pois não há.

O que quero falar é de esperança.

Meu avô materno, o velho Nadyr, foi delegado dativo de Primavera na década de 60. Na verdade, ele era subtenente da PM, mas exerceu a função, ante a falta de bacharéis em direito na época. Conta a minha mãe, sempre que possui oportunidade, que a minha avó, fazia uma espécie de orientação acerca de higiene pessoal e de pré-natal à população, como forma de ajudar nestas, digamos, necessidades primárias dos habitantes. Esta história se faz necessária pois, sempre acoplada a ela, vem os dizeres da minha mãe me falando da situação de pobreza da localidade (não sei se já era Município naquela época).

Hoje, avanços tiveram, é certo, mas a aparência de pobreza e de abandono ainda se estampa no rosto de uma população que carrega as marcas de sofrimento e, muitas delas, de uma tristeza como modo de viver. Digo que carrega as marcas porque hoje vi um ar de realização.

Fui chamado para compor a mesa e, de frente para a platéia, pude fazer essa constatação olhando no rosto dessa população em um auditório lotado, mas passivo e quieto, sem qualquer palavra ou conversa paralela, ao longo de quatro horas ininterruptas de discursos e apresentações de critérios técnicos pela empresa e pelos membros da mesa, onde muito pouco, com benevolência na minha opinião, foi assimilado pelos que estavam presentes.

As únicas manifestações eram aplausos contidos, sempre que iniciados por alguém da mesa ou das cadeiras da frente.

Ouviram, sempre com uma alegria calada, afinal, autoridades estavam no local, para mostrar um empreendimento de R$ 400.000.000,00, que vai melhorar a vida de todos, trazer emprego e renda, almejados desde o comissário de polícia Nadyr. Vão trazer cursos, investir na cultura local, projetos sociais para crianças e adolescentes.

Mesmo que nada disso ocorra, pelo menos por um dia aquele povo distante foi lembrado, inclusive com o farto lanche, para muitos o almoço, oferecido depois do encerramento da audiência pública.

Naquele momento não adiantava nada alguém dizer que o empreendimento estava no local pela mina que existe lá e que a fábrica estava se fixando por, provavelmente, estudos locacionais, e que o Estado e o Município tiveram pouca participação na escolha do local de implantação da empresa que, neste tipo de empreendimento, é baseado no local do minério. Naquele dia os governantes que elegeram lembraram deles. O Brasil, pela empresa multinacional, lembrou deles.

A esperança triunfou, pois aquele povo estava sendo visto e lembrado. Nem que seja somente por um dia.



De Primavera para Belém.








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Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente! Boas lembranças meu filho. Até parto seu avô fazia pois era também enfermeiro e de certa forma sua avó colaborava na educação das gestantes com noções de higiene evitando doenças frequentes. Beijos. Mamãe.