sábado, 30 de março de 2024

Trancoso

O por do sol
Visto do mar
Da praia dos nativos
Na morenice baiana
Do meu amor antigo
 
Trancoso, 30/03/2024

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Avaliação


Mais um dia de avaliação 

Esperando na ante-sala da terapeuta

18:50

A devolutiva destruidora


Só penso em chegar em casa

Me entregar à ebriedade do vinho tinto

da vodka e da novela

e enganar a esperança 


Da base, 22/01/2024

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Baiana


De Orixá
Yemanjá
Também de encantados
Iara


Morenice jambo
que encanta
O sorriso pequeno
que enfeitiça


As covas fincadas na face
como poços de luz
hipnotizam
Seduz


A meninice preta
imune ao tempo


Da base, 07/07/2023


quarta-feira, 24 de maio de 2023

O Barão

No início da década de noventa, durante os meus dezesseis aons, nas cercanias do saudoso colégio Moderno, onde estudava, existia uma figura hoje lendária, o Barão, que andava pela Braz de Aguiar e Benjamim, sempre transitando com desenvoltura e fazendo piadas nas rodas de jovens. Falar com o Barão era estar na “high society” paraense ou, pelo menos, assim se considerava na época.

O Barão transitava entre os Ponto de Bala, em frente a Zoomp, a Company, o famoso Manga Café, hoje inexistentes, mas, principalmente, na frente do Cosanostra, no pedaço mais badalado de uma Belém burguesa e jovem, nas quais desfilavam carros do ano importados, roupas de marca e esbanjamento de dinheiro, na engarrafada Braz de Aguiar, para os que querem ver e ser vistos.

Aparentando já ter cerca de quarenta anos, baixo, negro, sempre com roupas descoladas das marcas de grife que circundavam a Braz de Aguiar, destoava dos moleques brancos de quinze ou dezesseis anos que rondavam o local durante o dia, sejam os da alta sociedade ou mesmo de uma classe média que queriam estar entrosados. Mas, como disse, andava pelas rodas com desenvoltura e falando com todos, sem realmente conhecer ninguém.

Barão guardava carros na frente do Cosanostra, em seu auge, quando lotava a Benjamim Constant e a Braz de Aguiar. Naquela época, os desfiles de carros e a vontade de ser visto era tão grande que os carros não passavam ou passavam vagarosamente pela Benjamim, mas não havia nenhuma buzina ou irritação, apenas a espera para o “desfile”.

Pela tarde, quando saia da escola, via a desenvoltura do Barão, mas nunca tive o acesso para falar com ele. Somente o via, mas sem poder chegar.

Pela noite, quando os cabelos dos frequentadores começavam a esbranquiçar, uma vez vi a desenvoltura do personagem, transitando na frente do Cosanostra e do Manga Café, quando saí com o meu pai, sem no entanto entrar em nenhum dos dois bares.

A verdade que essa vida noturna de Cosanostra e Manga Café, na época, era um pouco difícil para quem morava no Guamá, com amigos lisos e em uma Belcity que os ônibus paravam de funcionar às onze horas da noite e somente voltavam às seis da manhã, tratando somente de chegar na Braz de Aguiar. Se formos considerar o preço de um bar da moda, como era o Cosanostra, era inacessível.

A crônica está longa, mas não posso deixar de contar uma das últimas do Barão: Um amigo, assíduo frequentador do “Cosa”, arranjou uma namorada extremamente ciumenta. Ambos conhecedores do Barão das áureas épocas. Esta, disse que o celular do Barão era muito antigo e deu um celular novo para ele. Todo dia, às seis e trinta da tarde, ela ligava para o Barão para saber se o meu amigo já tinha chegado no Cosanostra e se estava acompanhado. O Barão, inocentemente, passava toda a ficha.

Nunca soube se o Barão era mesmo um cara de bom papo, se era amigo ou, mesmo que inconscientemente, uma forma da elite de amenizar sua culpa pela desigualdade social naquele local tão elitizado. E o Barão, inocentemente, se beneficiou da sua figura “cult”.

Hoje, saindo do “Cosa”, fui buscar o meu carro na esquina, sob uma chuva torrencial, e ele estava lá, como esteve durante estes, pelo menos, trinta anos, molhado, sem mais as roupas de grife, mas vestido com um daqueles coletes de guardador de carro fluorescente e um cabelo artificialmente negro graúna. Dei-lhe algum dinheiro, desejei boa sorte e disse: - até a próxima, Barão!

Da base, 24/05/2023.


segunda-feira, 6 de junho de 2022

O Primeiro Livro



Quando descobri que o Pedro era autista, uma das coisas que mais me angustiava era o Pedro não conseguir ou querer ler um livro! Um dos meus sonhos, quando pensei em ter filho, era poder ler com ele e, um dia, quem sabe, compartilhar minha biblioteca.

É certo que já havia lido pra ele e, algumas vezes, até mesmo lido alguns livros bem menores. Mas um livro mais expressivo, este foi o primeiro.

Hoje fiz isso com ele! Li com o meu filho esse livro aí! Quem sabe é o início de um leitor que vai me dar mais orgulho!

Da base.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Amor à primeira vista

A amei na primeira vez 
Naquela universidade 
Nas rodas das baianas
Jeans, marrom e salto alto

Amor profundo
Puro
Sem te conhecer
Involuntário 

Tua pele morena
Teu sorriso amplo
Tua determinação insegura
A personalidade forte

Muito tempo juntos
Vieram cumplicidades amargas
Lembranças dolorosas
Dores incuráveis

Obrigação de estarmos juntos
O choro não muito escondido
Cantando alto para incomodar ou afastar
Depois o ódio 

Sensação de ser demais
De ser vomitado
Buarquianas …
… de que já vou tarde

Hoje o ressentimento 
Nenhuma palavra
Ainda te amo
Mais que a primeira vez

Como me disse
O amor não é suficiente
A vida testando ela mesma em nós

12dez2021

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

22:48


Quero um cigarro

Hoje está difícil

Vou voltar a fumar


A televisão ligada

Preenchendo o silêncio 

A segunda garrafa na metade

E o monstro peludo e macio me abraça na tristeza 


A respiração difícil

O choro preso desde a manhã

Dois ou três poemas de Byron

Ninguém pra conversar 


O sopro da morena acalenta

Leio Macondo

Um Pai-nosso

Sem acreditar 


22:48

De um dia longo

De uma vida longa

Com a obrigação de estar vivo


Da base.