quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Neymar, Ganso, Pato e um animal.

Costumo dizer que o maior problema, talvez trauma incurável, do futebol brasileiro foi a derrota da copa de 1982. O time dos sonhos, com Zico, Júnior, Falcão, Sócrates & Cia, para mim a melhor seleção de todos os tempos (ou pelo menos a melhor que vi), derrotada, jogando o futebol arte.

Após a eliminação, com o nosso carrasco Paolo Rossi, criou-se o conceito de “seleção eficiente”. Neste conceito, a seleção brasileira, desde aquela época, tem jogado na retranca, sempre visando a vitória, geralmente sem brilho, somente em busca do caneco, seja lá de que campeonato participe.

Uma das exceções, claro, foi a copa de 1994, em que o Brasil jogou com brilho, com arte, em muito dependente do Romário, sem desconsiderar o Bebeto e mesmo o próprio Dunga, este com seus lançamentos e sua marcação incessante e cerrada, que me lembro como se estivesse assistindo a copa hoje, em Mosqueiro, onde estava na época. Infelizmente, salvo raros jogos, foram poucos momentos do futebol arte brasileiro que me lembro. Mesmo na Copa de 2002, em que fomos pentacampeões.

Hoje, no amistoso contra os americanos, relembrei da arte de jogar futebol. Do futebol brasileiro. Do futebol com alegria, descontração e, na parte boa e despretensiosa, moleque.

Mesmo que não tenha vivência para falar do futebol brasileiro, pois não vi Pelé, Garrincha e Nilton Santos jogando, dentre outros e sem desmerecer ninguém, talvez, com apenas um jogo, é a melhor seleção brasileira que vi desde 1982, quando chorei escondido do meu pai em decorrência da eliminação no jogo contra a Itália.

Sei que o Mano Menezes não foi bobo quando convocou um ataque já constituído e firmado do melhor time brasileiro de 2.010, o Santos. Robinho, Neymar e Ganso já estavam entrosados e estes, principalmente o primeiro, já são atletas experientes, no que pese a pouca idade dos dois últimos. Óbvio que o técnico queria segurança para estrear em grande estilo. Melhor, queria estrear com outro estilo da seleção passada.

Penso que saímos da era Dunga e de outros técnicos pós-82 do futebol eficiente para a era Mano, do futebol arte, do futebol toque de bola. Sei que ainda é cedo para fazer qualquer análise, ainda mais se considerarmos que o jogo foi contra um time ainda em consolidação, o dos isteites, e que foi apenas o primeiro jogo desta Seleção brasileira. Mas temos que considerar, também, que os Estados Unidos estão treinando há pelo menos quatro anos, pois foi o mesmo time que jogou a Copa do mundo, e que a Seleção Canarinho apenas treinou um dia e meio, tendo a sua formação completamente modificada, inclusive graças à lucidez da não convocação do animal Felipe Melo, jogador símbolo da era Dunga.

Neymar e Ganso, capítulos a parte e que ficarão para uma próxima crônica, foram brilhantes e geniais, um deles inclusive fazendo gol e o outro imprescindível para a vitória. Como falei para a Preta, que inclusive twittoou, o Ganso parecia que nasceu na seleção, tamanha a tranquilidade e familiaridade que tinha, atuando como verdadeiro capitão, mesmo sem estar com a braçadeira. Não posso deixar de falar no Pato, que fez dois gols, um anulado, atuando como matador, ao estilo Romário, no que pese o estilo dos dois não ser muito parecidos.

Vi, agora, na tv, imagens do Ganso jogando na Tuna Luso, o time que a torcida cabe em uma Kombi, em que sua mãe fazia churrasquinho na frente do estádio para ajudar o time. Não vou entrar no mérito, como fez o comentarista Caio Ribeiro, de que espera que os jogadores não se deslumbrem com o sucesso, pois acho que a cabeça destes novos jogadores são de atletas, ainda mais quando vejo a segurança do Ganso em campo.

O fato é que espero que o Mano Menezes cumpra a sua promessa de retorno do futebol arte à seleção brasileira, ou pelo menos dê chances para que apareça, deixando a era do futebol “eficiente”, que nunca deu certo para o Brasil, a exceção da copa de 2002 com o Felipão.

Contudo, vendo o jogo de hoje, há pouco tempo da eliminação do Brasil da Copa, não deixo de pensar como seria se o técnico Dunga tivesse convocado Neymar, Ganso e Pato. Sem convocar o Felipe Melo, é claro.
 
Belém, 11 de agosto de 2010.