domingo, 27 de março de 2011

Pedro de Nóvoa Cavalcanti ou, o nascimento de um Bebê

Achei perdida esta crônica de mais de dois anos atrás que, agora relato como escrevi na época, com algumas correções necessárias:

Este blog não foi feito para registrar acontecimentos da minha vida, mas para passar experiências aos que estiverem na mesma situação possam usá-las e tirar as suas próprias conclusões. Por este motivo, pretendo descrever o nascimento do meu filho, Pedro de Nóvoa Cavalcanti, apenas como uma experiência a orientar um pai como eu, de primeira viagem, sem qualquer referência subjetiva e ilações de cunho pessoal.

A criança mais linda deste mundo, a mais amada e esperada, nasceu às 7:12h, com 3,2kg e 56cm de altura. Melhor, de comprimento. Os preparativos para a sua chegada começaram três dias antes, da forma mais consistente. Digo isto porque, como todos sabem, na hora que o "casal" sabe que "está grávido", os preparativos se iniciam, mas, o que conta mesmo são os três últimos dias ou a partir da última consulta neonatal, quando se marca a data do parto, se for cesariano.

Eu sabia tudo de gravidez e parto. Me inscrevi em três sites de bebês e recebia emails diários, um deles bastente extenso, que me deixava informado de tudo sobre a gravidez. Meu primeiro conselho: não saiba tudo de gravidez e parto, pois a pessoa fica paranóica, pensando nas doenças que a criança pode ter, o que pode acontecer com a mãe, etc. Tente fazer uma leitura superficial da gravidez, aprendendo somente o necessário e, principalmente, segundo conselho, quando qualquer pessoa vier falar sobre alguma desgraça relacionado à criança ou à gravidez, diga que você não quer saber ou, simplesmente, não a escute, pois você vai certamente relacionar o comentário à sua criança ou à sua companheira. E você vai ver que a quantidade destas pessoas é muito maior do que você imagina. Se possível, exclua a amarga do seu convívio, até nascer o rebento, ou para sempre, se possível.

Voltando ao assunto, mesmo que as malinhas da mãe e do bebê estivessem prontas há quinze dias, você somente começa a pensar no parto com a data marcada. No meu caso foi segunda-feira, que por um motivo irrisório, a Preta brigou com ela mesma. Digo isso porque não se pode retrucar em nenhum momento, pois, mesmo que se esboce uma reação, o primeiro pensamento que vem é a antecipação do parto e a preocupação que eventual clima pesado pode trazer ao nascimento da criança. Então fique calado, deixando a outra falar e, mesmo calado, não espere que a briga vá ser menor do que outras que você teve. Certamente vai ser pior e, pior ainda, sem você ter qualquer direito de ficar chateado, pois a prioridade sempre é o filho e, mais, nunca vi uma grávida perder a razão, mesmo que você esteja calado. Usando o dito popular, nestes casos, calado já está errado.

Três dias trabalhando e três longas noites sem dormir depois, chego, estraçalhado e nervoso, às vésperas do nascimento do bebê. Precisava dormir bem, afinal, o dia seguinte era o grande dia. Jantamos cedo, pois a médica havia marcado o parto para as seis horas da madrugada, horário esse que somente conhecia quando amanhecia nos bares em outras épocas. Não se pode comer muito, pois a Preta ia passar por uma cirurgia e eu ia, e fui, assistir o parto e tinha que me precaver contra os efeitos do excesso de comida.

Aliás, a decisão de assistir o parto é muito complexa e, como se verá abaixo, tem que ser muito bem pensada para pais, como eu, que são de primeira viagem, pois as cenas são fortes e requerem um organismo muito bem equilibrado. No meu caso, a decisão foi simples e rápida: a Preta decidiu! Na primeira consulta do prénatal, a médica me perguntou: Tu vais ver o parto? A Preta, imediatamente e com a singelesa das decisões ditatoriais, respondeu: Vai. 

Pronto, estava decidido. E não podia falar nada, pois, se "estávamos grávidos" e ela iria passar por uma cirurgia, porque eu não poderia simplesmente assistir o parto? A lógica é irrefutável, e a decisão foi menos dolorida quando a Preta bateu o martelo por mim. 

No que pese a minha atitude tragicômica, não me arrependi em nenhum momento em ter assistido e, conta a minha moral imaginária e ilusória, fui essencial no parto do Pedro!

Depois de chegarmos por volta das 6h da manhã na Maternidade Saúde da Criança, com horário militar ou de insones, como estávamos, fomos para o quarto e logo chegaram a minha mãe e os pais da Preta. Todos nervosos e apreensivos. Recebemos a visita pouco depois das médicas do parto, Dras. Janete e Lia, uma prima e outra ginecologista que cuidou da Preta durante toda a sua vida e deixou de se aposentar dos partos somente para ter no nosso rebento na mão. Benza Deus, em uma linguagem popular.

Levaram a Preta de maca, com uma feição de pânico e pedindo que eu a acompanhasse. O Dr. Altino foi atrás e eu correndo sem saber o que fazer.

Entramos, eu e o meu sogro, em um closet - sei lá como era o nome do local e também não vou me preocupar em relatar agora, pois estou escrevendo sentindo a aflição da época -, que estavam as roupas verdes para entrar na sala de cirurgia. O meu sogro, médico pediatra, logo se vestiu, sem se preocupar com nada, tirando a sua roupa e colocando aqueles macacões, toucas e umas pantufas rudimentares parecidas com as toucas próprias para os pés. Enfim, equipado com toda a indumentária verde com cara de seriado americano ao estilo de Plantão Médico.

Olhou para mim e disse: - cuidado que existe muito furto aqui. Ele levam tudo que tu deixas.

Quando baixei para olhar alguma coisa ou esconder algum pertence, o velho Altino desapareceu! Não sabia sequer por onde tinha saído! Pelo pouco de lucidez que me restava saí, resoluto, com minha armadura de lona verde e meu capacete para chuveiros, a ajudar minha amada no resgate do meu rebento, pela porta oposta a que tinha entrado! Mas absolutamente apavorado! Menos, porém, que o meu sogro!

Saí procurando, no centro cirúrgico, de porta em porta, e perguntando. Sorte que era antes das 7h da manhã, mas ainda encontrei alguém, com a mesma armadura, que me disse para sair e que não dei muita conversa e continuei procurando, sem mais perguntar. 

Encontrei o velho Altino barrado em uma porta pela pediatra da equipe da Dra. Janete e presenciei, com orgulho, a própria Dra. Janete dizendo com firmeza: - Pode deixar ele entrar! Ele já segurou mais crianças em parto que nunca vais pensar em segurar!

Entrei no vácuo do pediatra! Renovado e confiante! Confiança esta que em poucos segundo terminou quando a prima Lia olhou para mim e disse "cuidado com a bandeja", que era a de bisturis que estava ao meu largo, mesmo tendo a certeza que ela estava longe quando eu passei e que não havia qualquer descuido meu! Óbvio que mesmo assim, colei as nádegas na parede, com a câmera de fotografia até então inútil e esquecida que a Preta também me obrigou a entrar com ela.

Pediram para eu sair na hora da anestesia. Me chamaram quando passou o efeito inicial. Dei um breve cafuné no cabelo da Preta e colei de novo as costas na parede e deixei o Pediatra Altino, fora do serviço, fazer a quádrupla função de pediatra assistente, marido, avô e pai.

Estávamos na cabeça da Camila, quando a pediatra, Dra. Mariana, me olhou esquecido no fim da sala de parto, e me disse quase sussurrando: "venha aqui deste lado", chamando para ir aos pés da Preta.

Parti para o lado oposto, tentando que ninguém notasse a minha presença. E ninguém notou. Quando cheguei do lado da doutora, sempre encostado na parede, ela fez um sinal para a máquina de fotografias e comecei a fotografar freneticamente!

E saíu o moleque! Comprido, magro e lindo, mesmo envolto no sangue e no esbranquiçado da placenta! Não chorou logo, mas chorou depois... Contido... Mas que aplacou a aflição de todos da necessidade de chorar!

Doutora Lia, enquanto a Dra. Janete se preocupava com o fim do parto, levou o Pedro, bíblico, na cabeça da mãe para o primeiro beijo e a Preta, em um misto de alegria e preocupação, olhava e chorava com a criança.

De repente a pediatra Mariana recolhe o rebento e sai com pressa e o Pediatra visitante, Altino, sai correndo atrás! 

Bom, tinham dois, um deles avô e médico parteiro. Fiquei com a minha mulher! Ouvi taxativa uma voz de baixo: - "vai com o meu filho!" Ainda argumentei: - Teu pai está lá e vou ficar com você! Ela diz: - "vai agora ver o Pedro!"

Claro que fui! O Pedro estava ótimo! Tudo procedimento normal! Moleque lindo e saudável! Aliás, nunca vi o meu sogro tão feliz, segurando a criança com aquela máscara cirúrgica mal tirada do rosto e fazendo pose para a máquina fotográfica!

E, como disse no primeiro parágrafo, esta crônica é absolutamente impessoal e somente para o aprendizado dos demais pais de primeira viagem... mas meu filho é a criança mais linda do mundo!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Elizabeth Taylor

Vi neste momento, no noticiário da noite, que faleceu, ao lado dos seus quatro filhos, a atriz inglesa dos belos olhos violetas, Elizabeth Taylor. Mesmo que essa atriz não tenha sido contemporânea à minha vida, pois faleceu com 79 anos, é com tristeza que vejo o falecimento, pois a considero, como muitos, como a última diva da época de ouro do cinema, ao lado de Marilyn Monroe, Ingrid Bergman, Anita Ekberg e outras, e que são até hoje admiradas por todos, inclusive por mim.

A atriz dos imperdíveis e inesquecíveis Cléopatra (1963) e Gata em Teto de Zinco Quente (1959), recebeu cinco indicações ao Oscar, vencendo dois deles como melhor atriz: Disque Butterfield 8, de 1960, e Quem Tem Medo de Virginia Woolf ?.



Em Cleópatra, a atriz contracenou com Richard Burton, o grande amor de sua vida, com quem foi casada duas vezes, dentre sete casamentos que contraiu. Ficará reconhecida também pelo seu ativismo, principalmente em defesa dos portadores da AIDS, após a morte de seu amigo Rock Hudson.

Deixo as minhas homenagens, com a certeza de que as suas obras e a sua beleza serão eternas.



Da base, Belém, Pará.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Museu do Prado

Ontem, um professor meu perguntou qual lugar tinha como especial para mim. Respondi que gostava muito de Madrid,  lembrando da Cidade e da minha lua-de-mel, no qual tive muito bons momentos com a Preta. Aliás, contribuiu decisivamente para tornar Madrid especial para mim, além do pequeno hotel que ficamos hospedados dentro da Plaza Mayor, o Museu do Prado.

Este museu é o mais importante da Espanha e um dos mais importantes da Europa e do Mundo. Abriga obras espanholas, francesas, flamencas e até mesmo alemãs. Nele são encontradas pinturas de autores como Velázquez, Rembrandt, Botticelli, Rafael, Caravaggio e outros não menos famosos.

Mas as obras que mais me impressionaram foram as de Francisco de Goya, na qual o Museu é o detentor do maior acervo deste pintor. Particularmente as “pinturas negras” deste Autor me deixaram impressionado pela expressão dos quadros, como é o caso da “A Romaria de San Isidro”, na foto abaixo.


O Museu do Prado é um lugar mágico para mim, pela lua-de-mel, pela companhia, pela arquitetura do Museu, que foi fundado em 1819 e, obviamente, pelas obras. Poderia dizer que foi o melhor museu que fui. Digo mais, pela minha ignorância na época, não teria ido, somente o tendo conhecido por conselhos dado pela minha amiga Solange Afonso, conselho este que repasso aos leitores.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (Män som hatar kvinnor, 2009)

Filme Sueco? É bom! Ainda mais quando é baseado no primeiro livro de uma trilogia também sueca.

A produção do filme “Os Homens que não Amavam as Mulheres” é primorosa, com a ótima fotografia do inverno na Suécia. A trama, melhor ainda, com um enredo de suspense que deixa o telespectador grudado na tela.

No filme, um jornalista é contratado para investigar o sumiço da sobrinha de um rico industrial, que ocorreu há 36 anos, e é ajudado por uma jovem hacker, revoltada e anti-social. A narrativa é densa e com cenas de nudez e violência, mas que se encaixa perfeitamente ao filme e ao seu gênero.

Assista com um cabernet sauvignon de alguns anos, bem encorpado, e com as luzes da casa desligadas, obedecendo a recomendação de que o filme é impróprio para menores de 16 anos.


Da base, Belém, Pará.

domingo, 6 de março de 2011

Rua Gaspar Viana

Não pretendo fazer deste espaço um blog para fotografias, pois não sou fotógrafo e muito menos ando acompanhado de máquinas fotográficas, possuindo apenas, na maior parte das vezes, meu iphone, que sequer tem algum recurso de luz ou flash.

Mas ontem, em pleno sábado de carnaval, quando passava pela Rua Gaspar Viana, entre a Travessa Quintino Bocaiuva e a Avenida Doca de Souza Franco, encontrei um lava-jato em um daqueles galpões antigos e decidi colocar o possante para tomar uma ducha. No fim da tarde, vi um dos mais bonitos pôr-do-sol, melhor, um dos mais bonitos céus, que gostaria de compartilhar com os leitores.


Recordei que o meu segundo escritório foi naquele mesmo perímetro, um pouco mais a frente, em um daqueles galpões em que a irmã do meu sócio possuía uma empresa de serigrafia, e que, certamente, com a pressa da juventude, ou mesmo com a impaciência de construir a vida o mais rápido possível, nunca parei para olhar em volta os galpões históricos, as ruas de paralelepípedos e o céu avermelhado no final do dia, que dava uma áurea pacata e singular do antigo porto de Belém, mesmo com os raivosos ônibus cruzando a Rua Gaspar Viana a toda velocidade.


Deixo a última imagem.


Da base, Belém, Pará.

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Congelamento do Cordão Umbilical

A Preta veio com uma proposta no mínimo inusitada ontem a tarde: Congelar o cordão umbilical do Pedro, meu filho, que vai nascer no início de abril. Isso para um cara que passou metade da sua vida em Macapá, cresceu no Bairro do Guamá e morou a adolescência com o avô que era subtenente aposentado da Polícia Militar paraense, é algo impensável e soa como alguém querendo fazer piada comigo.

Mas, como mente aberta, decidi pesquisar na internet para saber exatamente para que isso poderia servir, sobre a empresa que pretendíamos contratar e se alguém estava falando mal ou criticando o procedimento e a referida empresa, com um ceticismo de um marxista conversando com um padre.

Me deparei com palavras e expressões como criogenia, congelamento de cordão umbilical, células tronco, e outras, que até agora apenas tinha visto em filmes e em livros de ficção. Me senti como na minha infância, quando, em Macapá, li um livro do Julio Verne sobra a viagem à lua, que por óbvio pouco me lembro do livro, mas recordo de algumas pessoas comentarem com ênfase que o livro era uma previsão do que aconteceria nos séculos seguintes, como se Julio Verne fosse um profeta. De outro lado, lembro também que alguns diziam que tudo não passava de mera obra de ficção científica, obra bem escrita, mas ainda assim somente um livro, pois tudo que aparecia na televisão nada mais era do que a chegada do homem à lua montada pelos Estados Unidos em um dos estúdios de Hollywood, como parte de um plano para impressionar a Rússia durante a Guerra Fria.

Estão rindo? Pois'é, estou me sentindo igualzinho a estas últimas pessoas, que não acreditavam que o homem chegou a lua, quanto ao congelamento do cordão umbilical do Pedrinho. Ainda estou achando que isso tudo não passa de uma promoção capitalista para a empresa ter lucro, pois além do valor do recolhimento das células tronco na hora do parto, ainda há uma manutenção anual, paga à empresa, para manter congeladas criogenicamente (aprendi hoje o que significa esta palavra) as células-tronco.

A minha tese se reforçou mais ainda quando, em pesquisa neste meio, via a Samara Felippo fazendo a propaganda da empresa, sites de fofoca informando que o Eriberto Leão tinha colhido a dos filhos dele e que a Juliana Paes escolheu a mesma empresa para fazer o do filho dela.

Está certo que a opinião da Juliana Paes não é de se desprezar, mas ainda assim acho que se trata de mero e puro capitalismo, ainda mais que verifiquei que a taxa anual é corrigida pelo IGPM, um dos índices mais valorizados da atualidade.

Contudo, em vários outros sites vi que a pesquisa de células troncos avançou muito e que estas são capazes de regenerar vários tecidos, servindo desde o tratamento para lábios leporinos até alguns tipos de câncer, passando por promessas de cura de deficiências físicas mais diversas. E isto tudo já comprovado e testado, sem se considerar as pesquisas que estão evoluindo e as futuras doenças que poderão ser curadas com as células-tronco do meu filho, em um futuro tratamento que não pretendo e nem quero utilizar, mas se precisar, o cordão umbilical vai estar esperando, congelado criogenicamente.

Se vou fazer?! Claro que vou! Pois, como dizem os mais antigos, canja de galinha não faz mal a ninguém, e, como os mais novos falam, o que não vem para atrapalhar, ajuda!

Da base, Belém, Pará.