sábado, 5 de outubro de 2013

A Imperfeição

Ouso dizer, afirmo e confirmo, que a beleza está na imperfeição. Nada é mais belo que algo imperfeito, ainda mais nestes tempos em que a busca espartaniana do perfeito está cada vez mais latente. 

Explico: Cada dia que passa as pessoas se exigem mais. Tenho que ter o corpo bonito, mais malhado, tenho que ser o melhor profissional, tenho que ser um bom pai, uma boa mãe, o melhor esportista, o primeiro da turma, da universidade, o melhor profissional, o mais bem sucedido, o esteticamente correto, o politicamente certo. O certo, nunca admitindo a pequena falha, por menor que seja.

Já escrevi algumas linhas tempos atrás por aqui acerca do politicamente correto e que, na maioria das vezes não é real e, quando é, torna as pessoas chatas, o que é imperdoável. Portanto, não vou chover no molhado.

Voltando ao tema, o amor ao imperfeito tem como constatação empírica dois exemplos, minhas paixões - no que pese existirem muitos outros e possivelmente gerarem um livro se decidir enumerá-los -: os vinhos e as mulheres.

Sou apenas um enófilo, mas nada mais enfadonho que um vinho estruturalmente perfeito e equilibrado. Para que serve um bom vinho, geralmente caro, se se sabe o que vai se esperar dele. O olor, a cor, a persistência e todas as demais características corretas e sem defeitos que o faz excelente, mas que, ao final, sabe-se excelente, porém, sem nenhuma surpresa.

Da mesma forma as mulheres. Vejo mulheres hoje usando de todos os artifícios para ficar mais bonitas. Uma busca incessante pela beleza que passa, invariavelmente, pela academia e pela anorexia. E, o que é pior, muitas vezes não é a sociedade, mas a própria mentalidade da era atual que diz que somente sendo magra e malhada é que a mulher vai ser bonita. Criamos um exército de mulheres padrões, iguais, com corpos espetacularmente certos que, se não se deve à malhação, se deve ao bisturi.

Não estou fazendo qualquer ode ao "embagulhamento" feminino, muito menos tirando o pão dos cirurgiões plásticos. Por favor, não interpretem mal. Durante esses alguns anos de blog, todos já devem saber que, se for para ficar feliz, sou o maior incentivador, desde pular de pára-quedas até fazer tatuagem na polinésia com dente de tubarão.

O que condeno é a imposição da sociedade da beleza padrão, perfeita e a qualquer custo.

Lembro de um artigo que li, há muitos anos atrás, em um jornal diário, do Paulo Cal, que era amigo de infância do meu pai, que o tema central era as celulites. Dizia ele, se a minha memória não falha virtude do tempo, que as mulheres sem celulites não possuem estórias para contar, pois passam os seus dias em academias  e se privam de diversos prazeres da vida em busca do corpo perfeito. As mulheres com celulites sim, te acompanham e pedem a sua caipirosca e vivem a vida, se bem entendi do artigo.

Não quero ser tão radical e também infirmar o artigo, pois se, quem quer que seja, curtir academia ou a perfeição, deve os seus objetivos perseguir, como um hedonismo saudável.

Mas, certamente, o perfeito não é o belo. O belo tem que ter algo de errado, de diferente, de surpresa. De surpreendente.

Como exemplo, conta a lenda que Diego Rivera, o marido promíscuo de Frida Kahlo, se apaixonou pelas marcas de acidente que ela possuía. Logo ele que era um pintor e que se exigia o perfeccionismo. Quem sou para discutir? Melhor, não discuto por convicção, pois por convicção o belo não estão no perfeito, mas na diferença e, principalmente, na alegria modesta da pessoa de se achar bela.

O vinho, como a mulher, tem que ter um quê de imperfeição, que os diferencia e que os fazem ímpar. Que nos surpreende e que nos faz amá-los. Amá-los não cegamente, muito menos por serem perfeitos, ao contrário, mas pelo fato de serem imperfeitos, como a condição humana.

E aí está a beleza da imperfeição, a surpresa e o fato de não ser comum, que torna as pessoas mais humanas e mais reais.

Da base.

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