sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Quatro turistas no Mirabelle, em Roma

Indicado por um amigo que frequenta os melhores locais, em uma noite fria de Roma, eu, Carla, Alex e Preta decidimos encarar o restaurante Mirabelle, o mais sofisticado restaurante que frequentei. Basta se dizer que a vista do restaurante era para a cúpula da Igreja de São Pedro, no Vaticano. 

Mesmo que tenhamos ido com o esclarecimento de que era caro pela pessoa que nos indicou, no início ficamos estupefatos pelo preço do cardápio. Mas, enfim, tentávamos pensar que já era esperado, relaxar e sempre com o pensamento de provar tudo. Fomos de menu degustação, portanto. Eu, de pronto, pedi a carta de vinhos, na qual o garçom pediu para esperar.

Pouquíssimo tempo depois, apareceu o Sommelier do local. Um homem esbelto, por volta de 40 anos, com a beleza dos italianos e impecavelmente vestido de meia casaca, além do cabelo cuidadosamente penteado para trás e seguro com gel. A fina elegância se via também no seu modo de falar e nas suas boas maneiras, mas sempre impessoal e distante.

Pedi para me ajudar a escolher um Brunello de Montalcino, que fez com uma destreza ímpar.

Os pratos começaram a vir. Sou amante da boa cozinha mas, confesso, me pareceu que o Chef estava mais preocupado com a aparência e com um experimentalismo na comida, que necessariamente com o seu sabor. Enfim, fomos comendo pequeníssimas porções uma atrás da outra, que pareciam que não iam ter fim. 

Estávamos sentados no meio do restaurante, que obrigatoriamente qualquer pessoa teria que passar pela nossa mesa, mas uma pilastra impedia de vermos o final do restaurante. Chamou-nos a atenção uma senhora idosa, que falava muito alto, que vestia um casaco de pele digno de um rapper americano.

Quando chegou, a Senhora parou brevemente em frente da nossa mesa e tirou o casaco, entregando ao Maitre,  estando por baixo um tubinho preto, muito curto e colado, com decotes no colo e um grande nas costas, que deixava transparecer a magreza de uma modelo anoréxica com as peles caídas em virtude da idade, idade esta que aparecia em seu rosto, mas nem tanto quanto no seu corpo, talvez em virtude de algum botox ou plástica.

A seu reboque passou um Senhor, com um sorriso bobo estampado no rosto, em uma cadeira de rodas elétrica que mais parecia um veículo lunar, de terno e aparentando ter, se fosse possível, o dobro da idade da já idosa senhora. Parecia ser seu marido ou amante. O seu segurança vinha ligo depois.

Em meio aos pequenos pratos que vinham a nossa mesa, somente ouvíamos as gargalhadas e os comentários altos da Senhora, passando vários garçons para o fundo do restaurante, algumas vezes com garrafas de champanhe, que pareciam estar paparicando o casal.

De repente um estrondo! 

Parecia um tiro ou algo similar no fundo do restaurante! As poucas mesas ocupadas ficaram em um silêncio atônito, sem saber o que acontecia. Da nossa mesa, somente se viu o Maitre, o Sommelier e vários garçons correndo para o fundo, para acudir alguém, provavelmente a Senhora, eis que as gargalhadas e a fala alta cessaram!

Quando se vê, o Sommelier, antes tão sério e elegante, passa apressado em direção da porta. Desta vez totalmente sem compostura, para em frente a nossa mesa, flexiona levemente a perna esquerda, une o joelho esquerdo ao direito, baixa a cabeça e segura a parte de cima do nariz, entre os olhos, com o dedo indicador e o polegar direitos, e solta com uma voz afeminada em italiano:

- Vou morrer lá fora e já volto!

Havia sido tão somente o pneu da cadeira de rodas que estourou.

E o final da noite? Além de uma conta digna de Sheiks do Petróleo, sai a senhora, bêbada, sendo sustentada por dois garçons, com o seu casaco de peles, vindo logo atrás o seu suposto marido, carregado no colo pelo seu segurança.

A comida não me agradou, mas a experiência foi única.



Serviço: www.mirabelle.it. Sempre façam reservas. Possui a nota 4.5 de 5 no tripadvisor e foi vencedor no site no ano de 2012.

De Aruba.

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