quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A Volta Grande do Xingú

No dia 09 de janeiro deste ano, cheguei em Altamira para participar de audiência publica de um projeto de mineração que, se licenciado ambientalmente, se situará em uma localidade denominada Vila Ressaca, cerca de 40 quilômetros rio abaixo, no Rio Xingú, passando por onde vai ser Hidrelétrica de Belo Monte, na conhecida Volta Grande do Xingú.

O meio de transporte mais rápido são as lanchas, um pouco maiores do que se tem a noção de lancha, com capacidade para cerca de 10 pessoas.


Em face do desconhecimento mais aprofundado acerca da hidrelétrica de Belo Monte, não tinha opinião formada quando confrontada com opiniões de ambientalistas e do governo Federal.

A lancha logo tomou uma velocidade alta, daquela capaz de deixar os cabelos femininos esvoaçados, e comecei a me deslumbrar com a região e com a viagem.

O Rio Xingú é um rio escuro, daqueles que brilham quando os raios do sol batem em seu leito, diferente dos rios café com leite típicos da Amazônia, como é o caso do Tapajós.


A paisagem também distingue das demais amazônicas. É uma transição da floresta tropical para o cerrado, uma mistura dos dois meio ambientes. Com ilhas de pedras no meio do rio e mesmo pedras esparsas, que exigem exímia destreza dos motoristas das lanchas que serpenteiam o rio desviando e procurando o melhor lugar para não bater.



As praias, uma espécie de faixa de terra que desponta nas margens, tão comuns nos rios paraenses, aqui são raras, mas existentes, aparecendo como um oásis seco, na imensidão das águas.


O deslumbramento foi imediato, o meu iPhone não parava de clicar a natureza, mesmo com o risco de queda na água com a velocidade da lancha. A vegetação, os pássaros, mergulhões e outros, as praias paraisídicas, as corredeiras, as ilhas de pedras, somente quebradas com uma ou outra casa de ribeirinhos, que também são raras, ou pequenas vilas na beira do rio, cada vez mais aumentou o deslumbramento desse lugar único, mesmo já tendo andado por esse Pará de proporções continentais.

A beleza é singular e o ecossistema, nunca havia visto igual nos quatro cantos do Pará.

De repente, vejo a grande construção. O colosso da barragem de Belo Monte, invadindo o rio como dois gigantescos muros, ainda aberto, permitindo a nossa passagem.



Me explica uma pessoa que tudo que ficou para trás será alagado quando a construção da barragem for concluída, e este paraíso ficará submerso.

Na volta, deixei as fotos de lado e simplesmente curti a vista, tentando identificar os pássaros que passavam, pausando tão somente para escrever estas linhas que, em uma hora e meio de viagem não consegui concluir, ante a hipnose que a paisagem me causou.

Acabo de escrever no retorno do hotel, com o sentimento misto de decepção e revolta, por o Brasil deixar esse paraíso ir para o fundo.

De Altamira para Vila da Ressaca e no retorno.

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