segunda-feira, 21 de abril de 2014

Beto Grill

Lembro, recém-chegado a Belém, do velho e lendário O Corujão, um restaurante e bar que ficava na Rua Quintino Bocaiúva, passando a Bráz de Aguiar. No que pese eu não ter idade e muito menos dinheiro para frequentá-lo, já ouvia falar de suas estórias, que era onde se encontravam os políticos, pessoas importantes, empresários, advogados e, mais que isso, era onde eram ditados os rumos do Estado do Pará.

Naquele tempo também existia o folclórico Waldyr, que tempos depois vim conhecê-lo. Não sei se as peripécias com as contas dos clientes que dizem que ele fazia são verdades, mas sei que ele se tornou igualmente lendário e parte indissociável do bar em seus tempos áureos. As estórias do Waldyr, qualquer dia conto, para evitar que fique muito longa a postagem.

Os dias de decadência chegaram ao O Corujão e creio que para tentar a sua salvação, fundaram um bloco homônimo, com um grande trio elétrico, que percorria as ruas de Belém, saindo da frente do bar e tendo a apoteose na Praça da República, se minhas recordações não falham. De toda a vida do O Corujão, somente participei desta época.

Mas, no que pese a importância do Corujão, ainda assim fechou, saindo do barco o Waldyr, que montou o seu restaurante próprio, o Alô Waldyr, na Rua Bernal do Couto, que teve uma vida breve.

Mas eis que surge o Beto Grill, do Beto, claro, fundador do O Corujão, agora na rua Doutor Moraes, entre a rua Conselheiro Furtado e a Rua dos Mundurucus, em frente a Fox Vídeo.

É certo que o restaurante não possui mais a importância política dos tempos áureos do o Corujão, mas ainda assim é frequentado por políticos, da antiga e da nova geração, empresários, advogados e pobres mortais, como este cronista nostálgico.

Também é certo que muitos vêm ao Beto Grill pelos tempos áureos do O Corujão, mas, ainda continuam vindo por o restaurante ter seus encantos.

Primeiro e peça fundamental é o Beto. Não o conheço, mas sempre o vejo com a sua bermuda, camiseta, sandália transpassada, sentado em alguma mesa, sozinho ou papeando, mas sempre com o seu olhar atento para certificar do padrão de qualidade do serviço e da comida.

E não somente por isto. A simpatia dele é contagiante, tratando bem indistamente qualquer pessoa, seja político, seja empresários, seja o mero frequentador.

O segundo, é o serviço. Garçons atenciosos, solícitos, conversadores e, o que eu gosto, mesmo que pague caro a dose do uísque, mesmo sem pedir, o "choro" do garçom é para políticos do nível de Gorbachov e Lula!

E o encanto final, a comida! Mesmo para aqueles que não gostam do sistema self-service, a qualidade é inegável e a presença das comidas regionais é diária. A mainçoba, o pato no tucupi, o bacalhau, são figuras dos almoços do dia-a-dia.

Mas, para mim, os carros chefes da casa são o arroz-de-pato, que dizem que o Beto foi o inventor do prato, que se popularizou nos restaurantes e nas casas de Belém, e o indescritível pirarucu de casaca, para mim o melhor que comi - excetuando tão somente o Tia Dedé Affonso, é claro -, que pode ser saboreado todos os dias.

Para não deixar de registrar, em outros tempos se vendia mussuã no local. Mas, pelo que sei, a iguaria foi substituída por outra, que é o mussuã de botequim, desta vez não mais um quelônio, mas um prato feito de músculo de boi, que vale a pena provar.

O Beto Grill fica na Doutor Moraes, 581.


Do Rio de Janeiro para Belém.

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