terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sobre a vastidão do Estado do Pará


Estou agora a caminho de Juruti, no oeste do Pará. Desde ontem, quando cheguei aqui em Santarém, não consigo parar de pensar na divisão paraense, cujo plebiscito está marcado para o próximo dia 11 de dezembro, até mesmo pelo apelo da população local para a criação do Estado do Tapajós.

Logo chegando, no Hotel Barrudada, vi um mapa do que seria o pretenso Estado, mapa este já intitulado Estado do Tapajós. Uma curiosidade, no mapa estava excluído o Município de Altamira, que está na disputa com Santarém para ser a Capital do, talvez, futuro Estado. Pergunto, com ignorância, será que já estão pensando em separar Altamira, ante a vastidão de seu Estado, maior inclusive que a França, tornando-o independente?




A propósito, o que quero comentar é justamente sobre o vasto território deste Estado e o principal argumento dos separatistas: o Estado é muito grande e, nesta vastidão amazônica, o Estado seria ingovernável. Este é o argumento principal, existem outros.

Chego no terminal hidroviário com alguns companheiros de trabalho. Aparecem alguns madeireiros e logo surge uma discussão acirrada sobre o engessamento da produção madeireira do Estado do Pará, com citações filosóficas, superficiais e nada pragmáticas, como por exemplo a de que o mundo quer a Amazônia intacta e quem paga a conta é o Estado e, principalmente, os nativos que sofrem, pois perdem o seu sustento. Por óbvio, me mantenho afastado, não quero discutir, muito menos, este tema infindável.

Desde logo me impressiono com a lancha que vai para Juruti: toda fechada, com um potente ar condicionado, televisão de plasma e filme hollywoodiano, cadeiras acolchoadas e uma pequena lanchonete, bem equipada.

De fato, é impressionante o tamanho deste Estado. Logo saindo a moderna lancha, os contrastes com a floresta se apresentam no Rio Tapajós. Imensas balsas carregando de uma só vez dezenas de carretas ou mesmo grandes navios, ao mesmo tempo em que pescadores artesanais jogam a rede para conseguir seu sustento, com os seus casquinhos dançando nas ondas produzidas pela lancha.







Dentro da lancha, computadores, iPhones, iMacs, etc., e eu lendo sobre Almodóvar, Picasso e Modigliani, por vezes conectado no facebook, na mais pura tradução da globalização. Quem poderia, há poucos anos, imaginar ler email's olhando as falésias de Óbidos?

Tudo dentro de uma vastidão de, me avisaram agora, cinco ou seis horas de viagem dentro de um rio barrento, primeiramente Tapajós, depois Amazonas, ambos de proporções grandiosas, margeados por floresta por todos os lados, cuja paisagem é tão bela que não consegui me concentrar no livro que lia, voltando os meus olhos o tempo todo para o rio.







Mas, mesmo com toda esta grandiosidade, ainda assim não acho que a solução para o desenvolvimento de um território passe necessariamente pela sua divisão.

Aliás, passei muito tempo em uma capital de Estado bem menor que Santarém e até hoje é menor e não se desenvolveu como os separatistas e, depois, os que propugnavam pela a sua transformação em estado, queriam. Ao contrário, este estado é exemplo de má administração e corrupção na mídia nacional e, pelo que eu ouço e vejo, exemplo de esfacelamento moral e da prática do só-se-dar-bem-sempre. Existem pessoas dignas e honestas, é claro, mas não é isto que está diariamente nos jornais e televisões.

Pois bem, pelo que vi, de um lado temos a globalização, com a internet, equipamentos eletrônicos e acesso à informação com muito mais facilidade que eu tinha quando morava naquele estado, encurtando distâncias e promovendo a integração não apenas ao Estado, mas do mundo. De outro lado algumas experiências, digamos, não muito bem sucedidas, de separação de Estados, como o que eu citei acima e de outros.

Neste momento, converso com um taxista, inconformado com a Prefeitura de Santarém, seu Município, confirmando que o problema não é a distância.

Sigo aliviado, assistindo o mais belo pôr-do-sol que vi, na certeza de que não será a melhor solução tirar esse pôr-do-sol do meu Estado.




De Santarém para Juruti e um pouco na volta, Pará.


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