terça-feira, 5 de abril de 2011

O Super-homem e a Kryptonita

No sofá curto, olho para o super-homem deitado na cama alta ao meu lado. Há um ano, o super-herói chegou com a notícia de uma dor forte no ouvido, um pouco depois do ano novo, um pouco depois de passar o Natal com a gente, como não ocorria em muitos anos. Um natal divertido, como era o herói, que hoje parece uma despedida.

Descoberta, era a kryptonita, que foi dominando o seu corpo traiçoeiramente. Primeiro, depois de seis meses, havia sido banida. Três meses após, tinha voltado.

E agora, mais quatro meses, o super-homem não possui mais qualquer sombra daquele atleta que fazia musculação quando poucos falavam neste esporte. Pedalava uma caloi barraforte todo dia às cinco horas da manhã. Dieta de segunda a sexta, com peixes e salada, para manter a saúde e a beleza.

Vaidoso, alto e atlético, se apresentava como boêmio aos que não sabiam este lado de cuidados com a estética e bem estar, o que conquistava todos, principalmente as mulheres, muitas, durante os finais de semana exagerados e noitadas sem fim, como um Dorian Gray.

Vindo para dormir com ele hoje, arrumando a mochila, coloco o uísque no copo, pensando que não era este o que ele gostava e os que, na minha infância, via na caixa constante na biblioteca.

Os dois Cavaleiros da Esperança que vinham salvá-lo, o abandonaram. Um pela distância, alienígena, talvez onde o super-homem deveria estar, com a possibilidade da salvação. O outro, próximo, conhecido, do meu convívio, com o argumento que era terminal, não atende o telefone, também o abandonou. Esperamos amanhã uma amazonas, para o milagre. Sem muitas esperanças.

Vou no banheiro, volto e ele está de olhos abertos. Parece que está apenas adoentado, como há um ano atrás. Falo com ele em vão. Não responde, mas parece que sabe o que está passando em volta.

O super-homem não é mais sombra do que foi. Quando acorda, apenas o olhar no vazio e eu, nesta madrugada, coloco o basquete na tv tentando alguma atenção dele, com saudades do neto de doze dias que o herói não vai conhecer.

Sinto os olhos molhados e um soluço preso na garganta e tento pensar que o super-homem ainda é o mesmo, quando ouço, repentinamente, o mesmo ronco forte e sonoro, sua característica, que ouvia quando era criança e dormia no quarto dele junto com minha mãe e minhas irmãs, com o sentimento de segurança que somente este aparente super-homem podia proporcionar.

Da base, Belém, Pará.


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3 comentários:

Anônimo disse...

Amigo, imagino a tua dor e a emocao de escrever essa postagem...nunca te abandonaremos viu??!! que o heroi, com todos os seus defeitos e virtudes, permaneca alegre e forte na tua lembranca, como quando crianca. Abs. Carla

Camila Cavalcanti disse...

Te amo muito e estarei sempre ao seu lado. Camila

Ana Cylene Colino disse...

Que lindo, Ary. Fiquei deveras emocionada ao ler teu post (BTW, o blog está MUITO BOM!). Um exemplo forte de amor, carinho e cumplicidade entre pai e filho. Espero que sejas um super-homem para o Pedrinho tbm! bjs bjs bjs