sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O triste fim da Era Jatene


Li recentemente uma reportagem da Folha de São Paulo cujo título é “120 cidades do país concentram metade dos homicídios” (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/08/120-cidades-do-pais-concentram-metade-dos-homicidios.shtml?utm_source=app&utm_medium=push&utm_campaign=pushfolha&id=1565081345), que o Estado do Pará é uma constante na matéria e me lembrei de alguns pensamentos que escrevi em uma das minhas noites de insônia no final do ano passado e que não publiquei. Segue o texto atualizado e com percepções de agora:


Pois’é, após 12 anos acaba a era Jatene no Estado do Pará. E acaba de forma lamentável. O Governador que governou o Estado do Pará por três mandatos deixa tristes legados ao Estado e aos paraenses.


Una-se a isto os índices de saneamento básico, no qual o Estado do Pará possui apenas 1,18% de tratamento de esgoto (fonte: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/para-tem-um-dos-piores-indices-de-saneamento-do-brasil-revela-pesquisa-do-trata-brasil.ghtml) disputando com Estados carentes como Amapá e Rondônia o último lugar.

Como piores índices do Brasil, não é estranho que o primeiro lugar dos piores Municípios com índice de IDH do Brasil se situa, claro, no Estado do Pará, que é Melgaço (Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1325495-isola-cidade-com-pior-idh-do-brasil-convive-com-palafitas-e-falta-de-saneamento.shtml ). Quanto aos Municípios com piores índices de IDH, mais vergonhoso ainda que são Municípios que ficam no arquipélago do Marajó, com abundância de frutos e peixes, não um Município inserido no sertão nordestino, em que até acesso à água é difícil, se não impossível.

Sai Jatene, apagado, com seus aliados e pessoas que deveriam estar junto com ele virando as costas e passando para a oposição, certamente pelo estado que deixou o Estado, com o perdão do trocadilho infame. 

Apenas como exemplo dos dois segundos maiores cargos do Executivo do Estado, o seu atual vice-governador Zequinha Marinho foi candidato a senador apoiado pelo seu maior rival e o vice-governador do mandato anterior, Helenilson Pontes, é simplesmente suplente de senador do maior opositor.

E não apenas isto. O seu Governo todo foi sustentado por propaganda e apoio da principal rede de televisão e jornal do Estado do Pará, que passou, no fim do mandato de Jatene, a criticar o seu Governo, vislumbrando já a saída apagada e envergonhada de um governo sem expressão, que preferiu se encastelar no poder e governar para os servidores públicos, retirando direitos e defenestrando pessoas de cargos, como a Rainha de Copas de Lewis Carrol.

Pelo que me lembro, não deixou grandes realizações. Ouso dizer que não deixou realizações.

Não entregou os hospitais que prometeu na campanha, não melhorou a segurança pública, a saúde e passou todo o seu governo brigando com os professores, classe a qual também pertence.

O seu principal projeto, a rua João Paulo II, que permeou os doze anos de seu governo, até o esboço final da crônica no final do ano passado, ainda não havia terminado. Para não dizer que estou sendo parcial, deixou a obra do Parque do Utinga, ainda que de forma reduzida. Não aquele Parque do Utinga sonhado, com um aquário de peixes de água doce e muitos outros brinquedos, mas é um espaço de lazer, como se a população paraense não necessitasse de muito mais que um local para passear.

Talvez por isso que o PSDB sequer lançou um candidato próprio, o que é uma vergonha para um partido que governa o Estado do Pará desde a década de 90, com um pequeno intervalo de quatro anos do Governo Ana Julia do Partido dos Trabalhadores. Decidiu, o Governador social-democrata que se diz socialista, apoiar Márcio Miranda, de um partido de extrema-direita, que é o Democrata. Lamentável não apenas pelo tempo que está governando o Pará, mas pela opção de um governo que sempre disse que ia fazer a "nova" política e se demonstrou o maior defensor da política antiga.

Aliás, Jatene apoiou Márcio Miranda, mas este não pareceu querer esse apoio de forma explícita. As campanhas veiculadas na televisão e rádio, pelo que vi na época das eleições, não explorou o governo em curso e nem mesmo a figura do Jatene. Quando a situação aparecia, preferia explorar o próprio candidato e quase nunca aparece o então Governador, como um filho adolescente que fica envergonhado quando o pai vai lhe deixar na escola.

Já com esta crônica alongada, o PSDB acaba a sua longa era no Pará, sem prazo de validade para voltar, saindo Jatene isolado, escondido e melancólico, envolto em diversas acusações de corrupção, como é o caso dos incentivos fiscais da Cerpasa e do uso da máquina pública através do Cheque Cidadão, que lhe rendeu a hipótese de estar inelegível pela Lei da Ficha Limpa, espraiando as denúncias e suspeitas aos filhos, como o caso da filha, que possuía cargo em comissão no governo, em que na campanha de 2014 foi flagrada em uma escuta da polícia em conversa com o Secretário da Fazenda Nilo Noronha, pedindo dados de empresários para aparente contribuições de campanha, e o filho Alberto Jatene, que foi preso temporariamente na operação Timóteo, que envolveu Silas Malafaia, por suposto recebimento de propina na conta de um de seus postos de gasolina. Inocentes ou não, estas foram as denúncias que permanecem até hoje sem explicações.

Triste sina para um partido político que tinha carinho e, confesso, acreditava em sua doutrina durante os anos 90, ainda mais considerando que meu pai foi um dos fundadores do PSDB no Estado do Amapá, sendo até mesmo candidato a Deputado Federal por esse partido, e o tio da Preta foi o que juntou os cacos do Partido da social-democracia quando Almir Gabriel perdeu as eleições para a Ana Júlia, sendo um dos principais responsáveis pela eleição do Jatene. Somente para não verem o fim do partido no Estado do Pará é que fico feliz que ambos já tenham falecido.

Não sou cientista político e nunca fui, mas tratam-se de percepções do dia a dia que são melhores revisadas e escritas após oito meses que Jatene deixou o Governo e, ao que parece, pela porta dos fundos.

Fim melancólico da Era Jatene e do PSDB no Pará, que me lembra Chico Buarque, quando canta “... eu bato o portão, sem fazer alarde/ eu levo a carteira de identidade/uma saideira, muitas saudades/ e a leve impressão, de que já vou...”

Esboço em 05/12/2018 e revisão nesta data, na laje.

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