Li
recentemente uma reportagem da Folha de São Paulo cujo título é
“120
cidades do país concentram metade dos homicídios”
(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/08/120-cidades-do-pais-concentram-metade-dos-homicidios.shtml?utm_source=app&utm_medium=push&utm_campaign=pushfolha&id=1565081345),
que o Estado do Pará é uma constante na matéria e me lembrei de
alguns pensamentos que escrevi em uma das minhas noites de insônia
no final do ano passado e que não publiquei. Segue o texto
atualizado e com percepções de agora:
Pois’é,
após 12 anos acaba a era Jatene no Estado do Pará. E acaba de forma
lamentável. O Governador que governou o Estado do Pará por três
mandatos deixa tristes legados ao Estado e aos paraenses.
Simplesmente
deixa o Estado do Pará como a Capital mais violenta do Brasil
(fonte:
https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-516365-pesquisa-aponta-belem-como-a-capital-mais-violenta-do-pais.html)
e anunciada como o quarto Estado mais violento (fonte:
https://www.romanews.com.br/cidade/para-e-o-quarto-estado-mais-violento-do-pais-afirma-folha-de-sao/47057/).
Una-se
a isto os índices de saneamento básico, no qual o Estado do Pará
possui apenas 1,18% de tratamento de esgoto (fonte:
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/para-tem-um-dos-piores-indices-de-saneamento-do-brasil-revela-pesquisa-do-trata-brasil.ghtml)
disputando com Estados carentes como Amapá e Rondônia o último
lugar.
Como
piores índices do Brasil, não é estranho que o primeiro lugar dos
piores Municípios com índice de IDH do Brasil se situa, claro, no
Estado do Pará, que é Melgaço (Fonte:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1325495-isola-cidade-com-pior-idh-do-brasil-convive-com-palafitas-e-falta-de-saneamento.shtml
). Quanto
aos Municípios com piores índices de IDH, mais vergonhoso ainda que
são Municípios que ficam no arquipélago do Marajó, com abundância
de frutos e peixes, não um Município inserido no sertão
nordestino, em que até acesso à água é difícil, se não impossível.
Sai
Jatene, apagado, com seus aliados e pessoas que deveriam estar junto
com ele virando as costas e passando para a oposição, certamente
pelo estado que deixou o Estado, com o perdão do trocadilho infame.
Apenas como exemplo dos dois segundos maiores cargos do Executivo do
Estado, o seu atual vice-governador Zequinha Marinho foi candidato a
senador apoiado pelo seu maior rival e o vice-governador do mandato
anterior, Helenilson Pontes, é simplesmente suplente de senador do
maior opositor.
E
não apenas isto. O seu Governo todo foi sustentado por propaganda e
apoio da principal rede de televisão e jornal do Estado do Pará,
que passou, no fim do mandato de Jatene, a criticar o seu Governo, vislumbrando já
a saída apagada e envergonhada de um governo sem expressão, que
preferiu se encastelar no poder e governar para os servidores
públicos, retirando direitos e defenestrando pessoas de cargos, como
a Rainha de Copas de Lewis Carrol.
Pelo
que me lembro, não deixou grandes realizações. Ouso dizer que não
deixou realizações.
Não entregou os hospitais que prometeu na
campanha, não melhorou a segurança pública, a saúde e passou todo
o seu governo brigando com os professores, classe a qual também
pertence.
O seu principal projeto, a rua João Paulo II, que permeou
os doze anos de seu governo, até o esboço final da crônica no
final do ano passado, ainda não havia terminado. Para
não dizer que estou sendo parcial, deixou a obra do Parque do
Utinga, ainda que de forma reduzida. Não aquele Parque do Utinga
sonhado, com um aquário de peixes de água doce e muitos outros
brinquedos, mas é um espaço de lazer, como se a população
paraense não necessitasse de muito mais que um local para passear.
Talvez
por isso que o PSDB sequer lançou um candidato próprio, o que é
uma vergonha para um partido que governa o Estado do Pará desde a
década de 90, com um pequeno intervalo de quatro anos do Governo Ana
Julia do Partido dos Trabalhadores. Decidiu, o Governador
social-democrata que se diz socialista, apoiar Márcio Miranda, de um
partido de extrema-direita, que é o Democrata. Lamentável não apenas pelo tempo que está governando o Pará, mas pela opção de um governo que sempre disse que ia fazer a "nova" política e se demonstrou o maior defensor da política antiga.
Aliás,
Jatene apoiou Márcio Miranda, mas este não pareceu querer esse
apoio de forma explícita. As campanhas veiculadas na televisão e
rádio, pelo que vi na época das eleições, não explorou o governo
em curso e nem mesmo a figura do Jatene. Quando a situação
aparecia, preferia explorar o próprio candidato e quase nunca
aparece o então Governador, como um filho adolescente que fica
envergonhado quando o pai vai lhe deixar na escola.
Já
com esta crônica alongada, o PSDB acaba a sua longa era no Pará,
sem prazo de validade para voltar, saindo Jatene isolado, escondido e
melancólico, envolto em diversas acusações de corrupção, como é
o caso dos incentivos fiscais da Cerpasa e do uso da máquina pública
através do Cheque Cidadão, que lhe rendeu a hipótese de estar
inelegível pela Lei da Ficha Limpa, espraiando as denúncias e
suspeitas aos filhos, como o caso da filha, que possuía cargo em
comissão no governo, em que na campanha de 2014 foi flagrada em uma
escuta da polícia em conversa com o Secretário da Fazenda Nilo
Noronha, pedindo dados de empresários para aparente contribuições
de campanha, e o filho Alberto Jatene, que foi preso temporariamente
na operação Timóteo, que envolveu Silas Malafaia, por suposto
recebimento de propina na conta de um de seus postos de gasolina.
Inocentes ou não, estas foram as denúncias que permanecem até hoje
sem explicações.
Triste
sina para um partido político que tinha carinho e, confesso,
acreditava em sua doutrina durante os anos 90, ainda mais
considerando que meu pai foi um dos fundadores do PSDB no Estado do
Amapá, sendo até mesmo candidato a Deputado Federal por esse
partido, e o tio da Preta foi o que juntou os cacos do Partido da social-democracia quando
Almir Gabriel perdeu as eleições para a Ana Júlia, sendo um dos
principais responsáveis pela eleição do Jatene. Somente para não
verem o fim do partido no Estado do Pará é que fico feliz que ambos
já tenham falecido.
Não
sou cientista político e nunca fui, mas tratam-se de percepções do
dia a dia que são melhores revisadas e escritas após oito meses que
Jatene deixou o Governo e, ao que parece, pela porta dos fundos.
Fim
melancólico da Era Jatene e do PSDB no Pará, que me lembra Chico
Buarque, quando canta “... eu bato o portão, sem fazer alarde/ eu
levo a carteira de identidade/uma saideira, muitas saudades/ e a leve
impressão, de que já vou...”
Esboço
em 05/12/2018 e revisão nesta data, na laje.
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