sábado, 13 de janeiro de 2018

Uísque e Jingle Bells

Todo ano, um grande amigo meu faz um natal especial para as crianças conhecidas dele. Como ele mesmo me disse quando ligou para convidar a família Cavalcanti, a festa é para as crianças, para que mantenha viva a crença no Papai Noel.

Então, a estória era a seguinte: a criança escreve uma cartinha para o Papai Noel pedindo o seu presente. Os pais compram e entregam para o meu amigo anfitrião. No auge da festa, o Papai Noel chega na festa de Natal, lê a cartinha da criança e entrega o presente, em um realismo natalino que poderia fazer até um adulto acreditar.

Chegamos na festa, uma bela casa, com muitas crianças e os seus pais, que se sentaram em uma das pontas da mesa de jantar, devidamente munidos de uísque e tira-gosto. Afinal, não eram apenas as crianças que poderiam se divertir nas vésperas do dia 25.

Primeiro, uma apresentação de mágico que reuniu todas as crianças e alguns adultos, inclusive eu, que adoro ilusionismo.

Logo em seguida o ponto alto da festa, a entrada do Papai Noel! Jogo de luz, som alto com música de suspense, centenas de balões jogados do alto, muito gelo seco e então o Papai Noel entra por uma porta lateral, cuidadosamente decorada para parecer uma lareira, em uma superprodução de fazer inveja a filme de Hollywood!

As crianças embasbacadas e não acreditando que estão vendo o Papai Noel na frente delas! E era o Papai Noel mesmo, com a perfeita indumentária vermelha, barba branca natural, o gorro escondendo o cabelo branco da cor de algodão, o grande saco vermelho com os presentes de todas as crianças do mundo e o Ho ho ho tradicional.

Pedro, então, cético como ele é, seguidor de São Tomé, olhava o Papai Noel desta vez acreditando que ele realmente existia, pois estava na sua frente.

Santa Claus sentou-se em uma poltrona pomposa ao lado da gigante árvore de natal da casa e passou à liturgia que me explicou o anfitrião, com a leitura da cartinha de todas as crianças e a entrega dos presentes, inclusive com o Pedro, que mais que estar feliz com a sua iguana e a tartaruga de brinquedo, que havia escolhido em sua cartinha com duro esforço da Preta, não parava de olhar o Papai Noel.

Mas o ponto alto desta crônica é o Papai Noel. Melhor, o que ocorreu depois da distribuição de brinquedos e do Jantar. Justo que o bom velhinho, após a viagem extenuante do Polo Norte, estava com fome e se serviu para repor as energias.

Também tirou o seu pesado casaco vermelho, afinal, a temperatura de Belém é bem mais alta que a do Polo Norte. Na retirada do casaco, estava de suspensórios vermelhos e uma camiseta branca, com detalhes natalinos na frente, com a inscrição Merry Christmas. Sentou-se na ponta da mesa onde estavam os pais e se serviu de uma dose generosa de uísque.

Começamos a conversar, eu e o bom velhinho, cada qual com seu aperitivo escocês na mão e, de quando em vez, servíamos de mais uma dose e balançávamos o copo para apressar a diluição do gelo. Descobri que Santa Claus possui um irmão gêmeo, que também faz bico de Papai Noel durante o período natalino, principalmente no Shopping Boulevard, e que os dois fazem uma dobradinha, fácil quando são gêmeos idênticos.

Aliás, essa de um se passar por outro, vem desde a infância, no Bairro de Nazaré onde foram criados e moram até hoje. Infância que o seu irmão recebeu o apelido de "cara de meia" e o meu Papai Noel, por óbvio, recebeu o apelido de "irmão do cara de meia". Ainda que não precise explicar, o apelido vem do fato de que uma meia é sempre igual à outra.

E foi passando a noite, as crianças indo embora, e o Santa Claus contando estórias de sua infância e juventude, sorvendo cada vez mais doses de uísque e tira-gostos, desta vez vindo dos rechauds onde fora servido o jantar. Pedro, desconfiado com o Papai Noel sentado na mesma mesa que ele e o seu pai, olhava de soslaio, ainda mais quando saía algum palavrão contido.

Estava ficando tarde, o sono apertando e tinha que levar o Pedro pra casa, mas não sem antes ver o Papai Noel batendo de frente com um vidro, quando tentava atravessar uma porta envidraçada para fumar do lado de fora da casa.

Da base.

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