Somente tive a idéia
desta postagem hoje de manhã, vindo tardiamente para se aproveitar
neste Círio de Nazaré. Mas, as dicas servem
para todos os Círios, pois são eventos já consolidados no
calendário extra-oficial do Círio de Nazaré. Como diz o adágio
popular, antes tarde do que nunca!
Poderia dizer que são
eventos profanos, pois estão a margem dos principais eventos
religiosos, como a transladação, o círio fluvial, a moto romaria
e, é claro, a grande procissão do segundo domingo de outubro.
Mas, não se enganem,
digo profano tão somente por não estar no calendário oficial do
Círio de Nazaré, mas todos, indistintamente, servem tão somente a
um objetivo: Louvar a Virgem de Nazaré, a Padroeira dos paraenses,
ou, como é conhecida nestes eventos, a nossa querida Nazinha.
Quinta-feira a noite,
véspera do segundo domingo de outubro:
O meu Círio de Nazaré
começa na quinta-feira a noite, véspera do segundo domingo de
outubro, quando os artesãos dos brinquedos de miriti chegam a Belém.
Para os que não conhecem, os brinquedos de miriti são tradição no
Pará. São brinquedos que são esculpidos por artesãos, geralmente
de Abaetetuba, Município próximo à Capital, da árvore do buritizeiro, recebendo as mais variadas formas.
Os artesão chegavam na
Praça em frente a Catedral da Sé, onde chega a transladação e
sai o Círio no Domingo, em um festival de cores e formas que alegram
qualquer criança, de 10, de 30, 50, 80, ou mais anos. Disse
chegavam, pois, a partir deste ano eles passaram a se concentrar na
Estação das Docas, perdendo um pouco a beleza e a originalidade,
mas ganhando em conforto.
Mas, aos que prezam o tradicionalismo, ontem a
noite, em uma conversa em um destes eventos, ouvi falar que existem
alguns artesão dissidentes, que continuam com a tradição, se
reunindo na Praça. Se não puder ir quinta a noite, outro dia bom é
o sábado a tarde, durante ou depois do cortejo do arraial do
pavulagem.
Depois da feira, é
certo no meu calendário o Bar do Rubão, na Cidade Velha, bairro
onde começou a Cidade de Belém. O Rubão, é uma figura conhecida
nesta Cidade, o porta-estandarte da escola de samba Rancho Não
Posso me Amofiná. Exímio cozinheiro, possui um barzinho pé-sujo na
Travessa Gurupá, 312 (http://bardorubao.blogspot.com/),
próximo ao Canto da Sereia (uma casa de
esquina, que existe a escultura de uma sereia no alto), que nesta
época de Círio prepara as mais diversas iguarias paraense, o pato
no tucupi, a maniçoba e um pirarucu assado de forno, além dos
tradicionais tira-gosto de charque, camarão e outros. Sente-se em
uma mesa ou com a cadeira na rua (ontem, inclusive, a rua estava
fechada pelos frequentadores), e coma o que quiser com uma cerveja
bem gelada e, se possível, tente conversar com o Rubão, descobrindo
algumas facetas de sua personalidade. O bar abre cedo, às 20h, e
normalmente fecha cedo.
Foto do Blog do Bar do Rubão, com os seus ajudantes.
Sexta-feira a noite,
véspera do segundo domingo de outubro:
Na sexta-feira, por
volta das 19 horas, a tradição é o Auto do Círio, que sai da
Praça do Carmo. O evento é realizado por vários artistas que, no
início dos anos noventa, se reuniram para fazer uma homenagem a
Nossa Senhora de Nazaré. São alguns carros alegóricos e muitas
pessoas fantasiadas com temas dos mais diversos, fazendo performances
de dança, canto, teatro, etc. O espetáculo é belíssimo,
caminhando pelas ruas da Cidade Velha, saindo da Praça do Carmo,
fazendo quatro paradas para as mais diversas encenações, passando
pela frente da Catedral da Sé, onde tem o belo, e as vezes cômico,
ritual do pedido de permissão para a Santinha para os participantes
continuarem com o louvor, findando na frente do Tribunal de Justiça
do Estado do Pará.
Hoje o espetáculo se
tornou grandioso, majestoso e rico. Mas nem sempre foi assim,
começando com um pequeno grupo, passando por fases difíceis, sem
qualquer patrocínio e quase acabando. Mérito dos organizadores pelo
lindo espetáculo.
Impossível não se
emocionar por várias vezes no trajeto.
Antes e depois do Auto,
tem o bar Nosso Recanto, único bar da Praça do Carmo, que também
serve diversas iguarias próprias dessa época. Mas o imbatível é o
camarão empanado com queijo catupiri, desses que a gente pede uma
cerveja e para em qualquer lugar, até mesmo em pé, e começa a se
deliciar com a fritura (essa palavra ainda não é pecado, mesmo que
alguns não acreditem).
Sábado de manhã,
véspera do segundo domingo de outubro:
A minha programação
preferida, o grande Arraial do Pavulagem, um grupo de boi, com uma
grande orquestra de ritmistas e batuqueiros, que está em vias de ser, ou já foi, tombado como patrimônio imaterial do Estado do Pará.
Tudo bem artesanal e tradicional, sem os megas trios elétricos e os
modernos carros de som dos grupos de Axé.
O Arrastão do
Pavulagem, como é chamado, tem início por volta de meio dia. Varia
o horário, pois ele começa quando a Santinha chega na famosa
escadinha, em frente a estátua de Pedro Teixeira, no início da Av.
Presidente Vargas.
Chega a Nazinha no
Círio Fluvial, é colocada em um carro da Polícia Rodoviária
Federal, dando início a motoromaria, o Arraial do Pavulagem já está
com os seus tambores prontos, começando uma rápida homenagem, ao
som de sua percussão, misturando a cadência dos instrumentos
musicais ao som frenético das motos que partem com a Santa. É
emocionante.
Saindo a Santa, parte o
cortejo pelo Boulevard Castilho França, passando pela frente do
Mercado do Ver-o-Peso, onde acontece um dos pontos altos do arrastão,
o banho de cheiro feito pelas donas de barracas de cheiro do
Ver-o-Peso.
Foto do site diarioonline
Subindo pela Praça do
Relógio, ao som dos batuqueiros e das músicas cantadas pelos
participantes, com enormes brinquedos de miriti passando de uma mão
a outra, a apoteose acontece na Praça do Carmo, que já está lotada
a espera do show dos integrantes do Arraial do Pavulagem, a banda
menor. Aí a festa tem início, sem hora para acabar. Nos anos
anteriores, valia dar uma volta pela Praça na frente da Catedral da
Sé, pertinho do local, para ver os brinquedos de miriti. A partir
deste ano, não sei como está. Ano que vem aviso a
todos.
Sábado de noite,
véspera do segundo domingo de outubro:
Meio de ressaca, ainda
tento ir, como fui por muitos anos, na esquina da Praça dos
Estivadores, no Boulevard Castilhos França, para ver a Santinha
passar e assistir o grandioso espetáculo de fogos em homenagem à
Nossa Senhora de Nazaré. O primeiro contato com a Santa e pausa para
rezar e pedir proteção para mais um ano. Afinal, nem só de festa
vive o Círio.
Após os fogos, Festa
da Chiquita Bacana, no Bar do Parque, na Praça da República, em
frente ao Teatro da Paz. Capitaneada pelo irreverente Cantor Eloi
Iglesias, de Pecados de Adão, que
embalou muitos namoros de adolescência de várias pessoas que estão
lendo esta postagem, a festa não possui e nunca possuiu uma
convivência pacífica com as autoridades locais e com a organização
religiosa do Círio de Nazaré, o que levou, inclusive, em alguns
anos da Administração do Prefeito Hélio Gueiros, o Papudinho, que
faleceu este ano, a ser proibida.
Mas a festa resistiu e continuava acontecendo quando, por volta
do começo do ano 2000, o Prefeito Edmilson a reativou, o que lhe
rendeu inclusive o troféu Viado de Ouro, a premiação máxima do
evento, dado às autoridades e homenageados. Pois'é, o motivo da
resistência com a festa é que ela é organizada e possui muitos
participantes homossexuais. Hoje possui um palco, com apresentações
de cantores e transformistas, premiações, concursos, etc, tudo de
forma bem irreverente e divertida.
Conta
a lenda que a festa começa quando passa a trasladação e somente
termina quando a grande procissão retorna. Nunca fiquei para ver,
pois tem o Círio no dia seguinte.
Domingo
de manhã, o Dia:
Mesmo
depois de todas estas festas, não se pode deixar de ver, pela última
vez durante o Círio de Nazaré, a Nazinha. Quem não quer ou não
pode acompanhar a Grande Procissão, pode ir para a frente do mais
querido, o glorioso Clube do Remo, onde a Avenida Nazaré é
mais larga, geralmente a Corda já se despreendeu da Berlinda e
muitos romeiros já deixaram a procissão, fazendo com que seja mais
tranquila a última oração para a Santinha.
Este é o meu Círio de
Nazaré, que ficou suspenso o ano passado e o atual, pelo nascimento
do filho, hoje com seis meses, mas ano que vem retomo as atividades,
algumas delas com ele, que já conheceu e se encantou com a Feira de
Miriti.
Encontre o seu Círio!
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