Chegou com humildade e com uma serenidade de dar inveja a Buda, mas logo todos abriram para ele sentar onde quisesse, mesmo em um vôo lotado.
Quando começou a taxiar, dentro de seu terno de linho branco, com corte moderno e os amassados típicos do linho, fez um extenso sinal da Cruz, unindo as mãos e fazendo uma prece silenciosa, de cabeça baixa, com reverência a Deus como a de um apóstolo a Jesus.
Após, aparentando um pequeno nervosismo, certamente por seu conhecido medo de avião, passava os dedos polegar e indicador formando o vinco da calça de linho, sobre o seu fêmur das pernas magrinhas sobrepostas uma sobre a outra.
Puxa um livro de sua pasta de couro marrom, cortesia da UNIMED, quem diria, um livro de bolso, A Extravagância do Morto, Aghata Christie, inusitado para o Autor de grandes obras como A Pedra do Reino.
Alguém fala com ele, elogiando e se dizendo um grande admirador, ele responde com simpatia e pergunta o nome, naquela voz rouca e um pouco trêmula, mas ainda bem firme para alguém de sua idade.
Segue a viagem tranquilo e eu embasbacado, hipnotizado, não consigo tirar os olhos deste vovozinho de 86 anos, que apareceu na minha vida quando eu tinha 15 de idade, em que conheci O Auto da Compadecida.
Na saída, passou ao meu lado, e deu um "até logo" simpático para mim e saiu com desenvoltura.
Criei coragem e perdi a primeira oportunidade de interceptação, mas, com a insistência da Preta, deixei a timidez de lado e aproveitei que outras pessoas estavam de prontidão para uma foto, quando a Preta pediu para tirar uma também, o que foi aceito com um sonoro "até duas".
A minha foto com ele saiu perfeita, a da Preta, que eu tirei, por óbvio saiu tremida e desfocada.
Como sussurrou a Preta ao meu lado durante a viagem, um simples vôo com Ariano Suassuna é mais emocionante que as férias que tivemos de uma semana na Bahia.
No vôo de Recife para Belém.
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