quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A Casa dos Budas Ditosos de João Ubaldo Ribeiro


 

Acabei de reler "A Casa dos Budas Ditosos", que havia lido logo quando foi lançado, no final da década de 90, fazendo parte da coleção "Plenos Pecados", em que cada obra corresponde a um dos sete pecados capitais.

O livro é um relato de uma mulher de pouco menos de setenta anos, que conta a sua vida voltada ao sexo e à luxúria, surpreendente, pois sequer se sabe se a senhora realmente existe ou se trata de um personagem fictício do nosso saudoso imortal.

Desta vez foi diferente, li com outro olhar, não aquele de um jovem adulto, que estava ávido para acabar e colocar o livro na estante e retirar mais um, mas com a calma e a paciência de curtir o momento, lendo e relendo as passagens, me deleitando e, por que não dizer, me excitando com algumas delas.

Pura diversão! Que deu a João Ubaldo Ribeiro o título de sexólogo da literatura brasileira!

Todos deveriam ler este livro ao menos uma vez na vida.

Da Base.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Não quero descer

Não quero descer
Não quero enfrentar o amanhã 
Minha noite é uma fantasia
Meus uísques, meus acepipes

Meus dias sofridos
Um trabalho que gostava
Passou a ser opressor
Atravesso a rua para trabalhar,
Como se estivesse acompanhado de um guarda medieval me conduzindo pra guilhotina 

Nesta segunda-feira, 
Preciso dormir
Amanhã começa mais um dia
Minha família precisa de mim

Base, 19/08/2024

sábado, 30 de março de 2024

Trancoso

O por do sol
Visto do mar
Da praia dos nativos
Na morenice baiana
Do meu amor antigo
 
Trancoso, 30/03/2024

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Avaliação


Mais um dia de avaliação 

Esperando na ante-sala da terapeuta

18:50

A devolutiva destruidora


Só penso em chegar em casa

Me entregar à ebriedade do vinho tinto

da vodka e da novela

e enganar a esperança 


Da base, 22/01/2024

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Baiana


De Orixá
Yemanjá
Também de encantados
Iara


Morenice jambo
que encanta
O sorriso pequeno
que enfeitiça


As covas fincadas na face
como poços de luz
hipnotizam
Seduz


A meninice preta
imune ao tempo


Da base, 07/07/2023


quarta-feira, 24 de maio de 2023

O Barão

No início da década de noventa, durante os meus dezesseis aons, nas cercanias do saudoso colégio Moderno, onde estudava, existia uma figura hoje lendária, o Barão, que andava pela Braz de Aguiar e Benjamim, sempre transitando com desenvoltura e fazendo piadas nas rodas de jovens. Falar com o Barão era estar na “high society” paraense ou, pelo menos, assim se considerava na época.

O Barão transitava entre os Ponto de Bala, em frente a Zoomp, a Company, o famoso Manga Café, hoje inexistentes, mas, principalmente, na frente do Cosanostra, no pedaço mais badalado de uma Belém burguesa e jovem, nas quais desfilavam carros do ano importados, roupas de marca e esbanjamento de dinheiro, na engarrafada Braz de Aguiar, para os que querem ver e ser vistos.

Aparentando já ter cerca de quarenta anos, baixo, negro, sempre com roupas descoladas das marcas de grife que circundavam a Braz de Aguiar, destoava dos moleques brancos de quinze ou dezesseis anos que rondavam o local durante o dia, sejam os da alta sociedade ou mesmo de uma classe média que queriam estar entrosados. Mas, como disse, andava pelas rodas com desenvoltura e falando com todos, sem realmente conhecer ninguém.

Barão guardava carros na frente do Cosanostra, em seu auge, quando lotava a Benjamim Constant e a Braz de Aguiar. Naquela época, os desfiles de carros e a vontade de ser visto era tão grande que os carros não passavam ou passavam vagarosamente pela Benjamim, mas não havia nenhuma buzina ou irritação, apenas a espera para o “desfile”.

Pela tarde, quando saia da escola, via a desenvoltura do Barão, mas nunca tive o acesso para falar com ele. Somente o via, mas sem poder chegar.

Pela noite, quando os cabelos dos frequentadores começavam a esbranquiçar, uma vez vi a desenvoltura do personagem, transitando na frente do Cosanostra e do Manga Café, quando saí com o meu pai, sem no entanto entrar em nenhum dos dois bares.

A verdade que essa vida noturna de Cosanostra e Manga Café, na época, era um pouco difícil para quem morava no Guamá, com amigos lisos e em uma Belcity que os ônibus paravam de funcionar às onze horas da noite e somente voltavam às seis da manhã, tratando somente de chegar na Braz de Aguiar. Se formos considerar o preço de um bar da moda, como era o Cosanostra, era inacessível.

A crônica está longa, mas não posso deixar de contar uma das últimas do Barão: Um amigo, assíduo frequentador do “Cosa”, arranjou uma namorada extremamente ciumenta. Ambos conhecedores do Barão das áureas épocas. Esta, disse que o celular do Barão era muito antigo e deu um celular novo para ele. Todo dia, às seis e trinta da tarde, ela ligava para o Barão para saber se o meu amigo já tinha chegado no Cosanostra e se estava acompanhado. O Barão, inocentemente, passava toda a ficha.

Nunca soube se o Barão era mesmo um cara de bom papo, se era amigo ou, mesmo que inconscientemente, uma forma da elite de amenizar sua culpa pela desigualdade social naquele local tão elitizado. E o Barão, inocentemente, se beneficiou da sua figura “cult”.

Hoje, saindo do “Cosa”, fui buscar o meu carro na esquina, sob uma chuva torrencial, e ele estava lá, como esteve durante estes, pelo menos, trinta anos, molhado, sem mais as roupas de grife, mas vestido com um daqueles coletes de guardador de carro fluorescente e um cabelo artificialmente negro graúna. Dei-lhe algum dinheiro, desejei boa sorte e disse: - até a próxima, Barão!

Da base, 24/05/2023.


segunda-feira, 6 de junho de 2022

O Primeiro Livro



Quando descobri que o Pedro era autista, uma das coisas que mais me angustiava era o Pedro não conseguir ou querer ler um livro! Um dos meus sonhos, quando pensei em ter filho, era poder ler com ele e, um dia, quem sabe, compartilhar minha biblioteca.

É certo que já havia lido pra ele e, algumas vezes, até mesmo lido alguns livros bem menores. Mas um livro mais expressivo, este foi o primeiro.

Hoje fiz isso com ele! Li com o meu filho esse livro aí! Quem sabe é o início de um leitor que vai me dar mais orgulho!

Da base.